Índice geral Opinião
Opinião
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Paulo Gala

TENDÊNCIAS/DEBATES

O governo exagera no afrouxamento monetário?

não

Juro alto no Brasil: fim de um tabu?

A crise de 2012 criou uma oportunidade única para o Brasil corrigir uma de suas maiores anomalias macroeconômicas: o juro real de curto prazo desproporcionalmente alto.

O grande temor por aqui sempre foi que o juro baixo causaria crescimento explosivo e descontrole da inflação, especialmente por conta do excesso de gastos do governo que pressiona a demanda agregada.

Estamos com o menor juro real da história recente. O PIB crescerá, na melhor das hipóteses, 1,5% em 2012. Onde está a explosão da demanda?

O Brasil não é uma economia com capacidade de geração de demanda interna infinita, bastando para isso baixar os juros. O país continua sim com uma série de problemas macro e microeconômicos, e a redução dos juros de curto prazo que o governo vem promovendo contribui em grande medida para corrigir mais uma anomalia dentre tantas outras.

A forte desaceleração da economia brasileira em 2012 se deve ao agravamento da crise mundial, especialmente Europa, e à situação extremamente problemática de nossa indústria doméstica.

São três os motivos que explicam a estagnação de nossa indústria: custo Brasil, câmbio sobrevalorizado e alto custo de capital.

Está caríssimo produzir por aqui hoje e nenhum empresário quer investir nessas condições. O custo unitário de produção brasileiro (salário divido por produtividade) atingiu níveis inviáveis. Para nossa indústria se recuperar, a produtividade tem de aumentar, o custo Brasil cair e o custo de capital se equiparar ao de nossos pares no mundo.

As condições de oferta e produção no país só vão melhorar a partir do momento em que os empresários se sentirem motivados a investir, contratar e criar empregos de qualidade. O governo precisa trabalhar, e tem feito isso a meu ver, criando condições para que a iniciativa privada possa aumentar sua capacidade produtiva.

Assim, a economia no pagamento de juros desse ano, decorrente da redução da Selic, tem permitido ao governo uma série de desonerações ao setor produtivo, na direção correta de se reduzir o custo Brasil.

A simplificação tributária e a redução de impostos são essenciais para aumentar a competitividade estrutural de nossa indústria, que está sendo massacrada no mercado mundial. A convergência do juro real para padrões normais de países emergentes também contribui para a correção das outras duas anomalias fundamentais da economia brasileira: a sobrevalorização cambial e a ausência de um mercado de capitais de longo prazo.

Com juro real acima de 5%, necessariamente nosso câmbio se sobrevaloriza e o mercado de capitais de longo prazo não floresce. E, antes que digam, isso não se deve ao excesso de gastos do governo.

É claro que o governo pode e deve aumentar a eficiência da máquina pública e manejar a política fiscal conforme as condições conjunturais. Mas daí a querer dizer que é o gasto público que explica o juro alto há um longo caminho.

O juro real caiu no Brasil por que o BC aproveitou sabiamente a conjuntura para manejar a política macro dentro de um ambiente estável e de credibilidade. Nada mudou substancialmente no gasto público.

Lá na frente, quando voltarmos a crescer, várias medidas poderão ser usadas, como aliás já estão sendo, para ajudar no controle de inflação. A desoneração tributária e de energia elétrica são belos exemplos disso. Mais desindexação e medidas macroprudenciais também funcionam.

Sem dúvida que se a demanda agregada aquecer demais, o governo deverá restringir gastos públicos para controlar o crescimento. Medidas que qualquer país emergente adotaria e tem adotado. Nesse sentido, o ano de 2012 tem mostrado que o Brasil não é um país anormal (uma jabuticaba?) como muitos gostariam de acreditar.

O Brasil não precisa de juro real acima de 5% para funcionar adequadamente. É um país emergente com infinitas complexidades, sem dúvida, mas nada que justifique um juro real exageradamente elevado.

PAULO GALA, 36, doutor em economia pela Fundação Getulio Vargas de São Paulo, é professor da mesma instituição

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.