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Chavismo em questão

Capriles cresce nas pesquisas de intenção de voto para presidente, mas Chávez intensifica campanha em seu estilo autoritário e é favorito

Nunca o "socialismo bolivariano" de Hugo Chávez esteve sob tamanho risco eleitoral. Embora o principal instituto de pesquisa da Venezuela, o Datanálisis, ainda aponte vitória do presidente com dez pontos de dianteira sobre Henrique Capriles, essa vantagem vem caindo paulatinamente.

O comandante, no poder desde 1998, dá sinais de preocupação com a eleição do dia 7 de outubro.

Nas últimas semanas, Chávez falou em guerra civil se for derrotado e até convocou uma cadeia de TV para, a pretexto de um pronunciamento, inviabilizar a transmissão de um comício do oponente. Chavistas mais exaltados têm intimidado militantes pró-Capriles.

Talvez o sintoma maior da inquietação seja o abandono de qualquer resquício de responsabilidade fiscal para irrigar com verbas públicas os projetos sociais de Chávez. As "misiones", como são conhecidas tais iniciativas, transformaram-se, pelas mãos do marqueteiro petista João Santana, no maior trunfo da campanha presidencial.

De janeiro a agosto, o gasto público subiu 23% em termos reais, na comparação com igual período de 2011. As reservas internacionais do país vêm sendo dilapidadas, e a petroleira PDVSA tornou-se um balcão de saques -no ano passado, a estatal repassou R$ 79 bilhões para o governo gastar, o dobro do ano anterior.

Verdade que, em 14 anos, Chávez reduziu o índice de pobreza da Venezuela -de 48% da população, em 2002, para 28%, em 2010- e alcançou a menor desigualdade de renda da América do Sul, medida pelo coeficiente de Gini.

A dependência do petróleo e o descontrole econômico, porém, propiciaram inflação de 30%, escassez de dólares para importação, apagões de energia e desabastecimento. Caracas é hoje uma das capitais mais violentas do mundo.

Tudo somado, é difícil a empreitada de Capriles. O oposicionista, que tenta ser o "homem novo" para a Venezuela, sabe que não pode atacar os programas sociais, mas, ao prometer mantê-los, presta reconhecimento ao governo chavista.

É na fragilidade das instituições, no entanto, que repousa o maior obstáculo à mudança. O Executivo domina o Legislativo e o Judiciário. Chávez moldou o Estado a seus interesses, embora sem transformá-lo numa ditadura aberta.

O presidente fez do país o que o estudioso do chavismo Javier Corrales classificou, em entrevista à Folha, de "regime híbrido", em que os freios e contrapesos entre os Poderes foram solapados ou eliminados. O regime de Vladimir Putin na Rússia -não por acaso, outro Estado dependente de petróleo- é um paralelo evidente.

Chávez, que enfrenta um câncer, não tem o mesmo vigor físico e político de anos passados. Ainda assim, e apesar do estreitamento de sua margem nas pesquisas eleitorais, a perspectiva mais provável é a de que o desgastado presidente receberá mais um mandato de seis anos.

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