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Francesco Scavolini

TENDÊNCIAS/DEBATES

Desinformação teológica e científica

O CFM, que tem afã de mostrar uma Igreja Católica impiedosa, quer a cultura da morte. A vida é um dom divino. Ninguém tem direito de tirá-la, nem pacientes

O ardiloso ataque contra a Igreja Católica perpetrado há poucos dias nesta coluna pelo presidente do Conselho Federal de Medicina, Roberto D'Avila, e pelo especialista em bioética Diaulas Ribeiro ("Lição de teologia", 6/9) não pode ficar sem resposta, até porque a questão envolvida, o "direito" de decidir sobre a vida e a morte, mexe com todos nós.

O fato citado pelos dois articulistas é a recusa do cardeal Martini, morto em 31 de agosto, a aceitar tratamentos que talvez poderiam ter prolongado um pouco sua vida.

Os articulistas, sabe-se lá por que, viram na atitude de Martini um gesto em contraposição à igreja de Roma, que na errada visão deles seria a favor da "obstinação terapêutica".

Na verdade, D'Avila e Ribeiro, além de demonstrarem total desconhecimento sobre os ensinamentos da Igreja Católica nessa matéria (teria sido suficiente consultar o catecismo), se contradizem e caem no ridículo. Ao citarem as declarações do cardeal Sgreccia, por eles mesmos definido como o homem de confiança do papa em matéria de bioética, confirmam que a morte de Martini ocorreu "conforme os preceitos e os cânones da ética católica".

No afã de querer mostrar uma Igreja Católica contraditória e impiedosa, D'Avila e Ribeiro citam também o caso de Piergiorgio Welby, que, embora sofresse há muitos anos de distrofia muscular, não estava absolutamente em fase terminal (como aponta o parecer do Conselho Superior do Ministério da Saúde da Itália em 20/12/2006), ao contrário do que erradamente afirmam D'Avila e Ribeiro.

Welby (apesar da doença, ele era casado, pintor, poeta, ativista político e escritor), com a ajuda de um médico que o sedou e desligou o aparelho auxiliador da respiração, suicidou-se de forma plenamente consciente, predeterminada e publicamente preanunciada.

Por isso, a igreja não concedeu o funeral religioso a ele, pois teria legitimado um suicídio escolhido de forma plenamente consciente.

Para a igreja, de fato, a vida não nos pertence, mas é um dom de Deus que deve ser guardado e promovido com todo cuidado e carinho desde a concepção até seu termino natural.

Por isso, ninguém tem o direito de tirar a vida humana quer com ações quer com omissões: nem o próprio paciente, nem os familiares nem, ainda mais, os médicos.

Nesse sentido, é preocupante a recente resolução 1995/12 do CFM, que deixa ao médico, como "última instância", o poder de interpretar o Código de Ética Médica e o poder de decidir se continuar ou não a cuidar da vida de um ser humano.

Todos devemos lembrar os inúmeros casos de pessoas em estado vegetativo que "acordaram" depois de anos. Esses casos levaram à recente publicação, pela conceituada revista "The Lancet" (em 10/11/2011), de um estudo mostrando que exames de eletroencefalograma (EEG) ajudaram médicos a perceber que alguns pacientes, aparentemente em estado vegetativo permanente, na verdade estavam conscientes.

Diante de tudo isso, torna-se necessária e urgente uma ação do Congresso para legislar em favor da vida e contra a cultura de morte que alguns pretendem implantar na Terra de Santa Cruz.

FRANCESCO SCAVOLINI, 56, doutor em jurisprudência pela Universidade de Urbino (Itália), é especialista em direito canônico

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