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Nova velha Venezuela

No romance "O Leopardo", de Giuseppe Tomasi di Lampedusa (1896-1957), Tancredi profere a frase que se tornaria uma máxima da política contemporânea: "Se queremos que tudo permaneça como está, é preciso que tudo mude".

Na Venezuela de Hugo Chávez, a eleição de domingo nada mudou. O caudilho venceu a oposição de novo, com larga margem (dez pontos percentuais). Vai governar o país por mais seis anos. Em 2019, após duas décadas no poder, poderá reeleger-se mais uma vez.

E, no entanto, alguma coisa se alterou. A oposição ao "socialismo bolivariano" renunciou a veleidades golpistas e uniu-se por um candidato jovem e promissor. Henrique Capriles, 40, governador do Estado de Miranda, conseguiu o apoio de 6,5 milhões de eleitores, 44% do total apurado até ontem, contra 55% do presidente, ou 8 milhões de votos.

Diante de um Executivo que faz uso irrestrito de cadeias de rádio e TV para cultuar a própria personalidade e da renda do petróleo para multiplicar programas assistencialistas, Capriles teve bom desempenho. Em 2006, o desafiante Manuel Rosales já havia alcançado 37% dos votos, mas terminou 26 pontos atrás de Chávez.

O chavismo, aparentemente, sofre uma erosão contínua. Seu calcanhar de aquiles mais visível é o aumento da criminalidade. Tampouco ajudam os problemas de abastecimento, sintoma da dependência da economia de um produto só.

Capriles soube explorar tais fraquezas, mas teve a prudência de defender a manutenção dos programas sociais que sustentam a popularidade do oponente. Reconheceu a derrota, pediu que os correligionários não esmoreçam e apontou as eleições estaduais, em dezembro, como seu próximo desafio.

Chávez parece ter sentido que os ventos, ao menos, começam a mudar. Em seus primeiros discursos, deu declarações em tom conciliador e pediu união dos venezuelanos. Pode ser sinal de que engatará uma marcha reduzida na trajetória estatizante -e aniquiladora de liberdades e do equilíbrio entre Poderes- de sua Presidência.

Não se deve esquecer, todavia, que Manuel Rosales, depois de derrotado, foi processado sob a acusação de enriquecimento ilícito e acabou por exilar-se no Peru.

Mesmo que admita a necessidade de retificar o regime, Chávez poderá descobrir-se incapaz de alterar a própria natureza (assim como não tem controle sobre a evolução do misterioso câncer que o afastou do comando por longo tempo). À sua revelia, incertezas não saíram do horizonte na Venezuela.

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