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Ruy Castro

Zero voto

RIO DE JANEIRO - Terminada a votação, às cinco da tarde de domingo, distraí-me em casa com uma coisa ou outra, à espera de que, pelas sete ou oito, começassem as apurações. Prometiam ser emocionantes. Mas devo ter me distraído demais porque, quando liguei a TV, às nove, 99% dos votos já estavam apurados e se sabia que, no Rio, Eduardo Paes levara de primeira, como previsto; em São Paulo, Serra e Haddad tinham feito Russomanno comer poeira; e, nas outras praças, os jogos também estavam feitos.

Com a votação eletrônica, a apuração ficou muito rápida -rápida demais. Nem nos EUA, onde já se usavam máquinas de votar, enquanto, por aqui, ainda enfiávamos cédulas individuais nas urnas -enfim, nem nos EUA se apura hoje com essa velocidade. Por um lado, é bom. O ritmo é tão avassalador que diminui a possibilidade de fraude -não há nem tempo. Por outro, tira toda a carga dramática das velhas apurações.

No tempo em que a contagem se fazia manualmente, voto a voto, nos degraus do Maracanãzinho, e levava dias para terminar, um candidato a prefeito ou a vereador sempre podia esperar que, por mais pífia que estivesse sua votação, esta poderia reverter assim que se chegasse ao seu reduto eleitoral. O que, às vezes, só acontecia lá pela terça ou quarta-feira, com o que esse candidato mantinha uma relativa, mas doce, sobrevida junto a seu partido ou eleitores.

Aberta a última urna, no entanto, e confirmada a acachapante derrota, esse candidato esbravejava que fora traído por suas bases ou ameaçava entrar com uma representação junto ao TRE, alegando que as urnas com seus votos tinham ido parar no fundo da baía, segundo testemunho de um banhista de bobeira nas proximidades.

Nas eleições de domingo, aqui no Rio, 44 candidatos a vereador, de vários partidos, tiveram zero voto. E nem eles protestaram.

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