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Convênios doentios

A greve de médicos que atendem por intermédio de convênios com planos de saúde é um grave sintoma das dificuldades do setor.

Os profissionais têm razão ao queixar-se da baixa remuneração oferecida pelas operadoras. Dependendo de como se calcula a média, eles recebem entre R$ 45 e R$ 55 por consulta. É bem mais do que os R$ 10 da tabela SUS, válida para o setor público, mas incomensuravelmente menos do que as centenas de reais cobradas por médicos particulares de renome.

Associações médicas reivindicam um aumento de 50%. Ressaltam que, entre 2000 e 2011, as operadoras puderam reajustar seus produtos em 151%, mas repassaram para as consultas só 65%. A inflação no período foi de 120%.

O primeiro efeito perverso da baixa remuneração é que, para reforçar seus proventos, o médico passa a realizar consultas em ritmo industrial. Tenta escudar-se contra erros multiplicando pedidos de exames, o que, evidentemente, redunda em custos extras.

Os administradores dos planos estão, claro, cientes do problema. Mas, como não têm garantia de que um aumento no valor das consultas resultaria em diminuição dos testes diagnósticos, preferem atuar nas duas frentes: achatam o pagamento dos médicos e criam dificuldades para autorizar exames.

É um cenário ruim tanto para médicos quanto para pacientes. Não por acaso, outro ponto da pauta de reivindicação dos profissionais é que os planos parem de interferir na relação médico-paciente, que deve ser autônoma.

É verdade, mas há um detalhe importante. Alguém precisa atentar para os custos, e o mais lógico é que sejam as operadoras.

Se ficar apenas a critério de médicos e pacientes, o preço do procedimento nunca será levado em conta, o que tende a encarecer o sistema todo muito além do razoável, ou mesmo a inviabilizá-lo. É preciso pensar em alternativas como os copagamentos pelo paciente, que poderiam imprimir um pouco de parcimônia a um modelo que favorece gastos exuberantes.

Outro ponto fraco do atual sistema é que ele se equilibra parasitando o setor público. Existem planos para o consumidor de posses, que funcionam razoavelmente bem, mas há também os produtos para os mais pobres, que cobram mensalidades baixas e resolvem as dificuldades de caixa com tantos entraves para o paciente que ele acaba recorrendo à rede do SUS.

Se a meta é um sistema de saúde privada mais saudável, será preciso enfrentar esses problemas com racionalidade -e sem hipocrisia.

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