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Cartão amarelo

Estagnação econômica, fuga de capitais, desvalorização cambial, inflação e contas públicas deterioradas. Tal é a dura realidade da Argentina no segundo mandato da presidente Cristina Kirchner.

O crescente intervencionismo e a manipulação dos dados econômicos, por sua vez, atestam a disposição do governo de brigar com os fatos. O exemplo mais burlesco é a insistência em afirmar que a elevação de preços não passaria de 10% ao ano, enquanto analistas estimam altas superiores a 25%.

Pela incerteza que cerca as estatísticas oficiais, o país recebeu inédita advertência do FMI: um cartão amarelo, segundo Christine Lagarde, diretora-geral do órgão.

Após o calote da dívida e o colapso do peso, entre 2001 e 2003, a Argentina conseguiu um período de crescimento econômico acelerado. Entre 2004 e 2011, o PIB teve alta próxima a 8% ao ano, em média.

Em parte, tal feito foi possível por causa da elevação dos preços agrícolas no mercado internacional. Também foi relevante o crescimento no Brasil, país que responde por 20% das exportações argentinas. Com saldos comerciais positivos, a Argentina conseguiu equilibrar suas contas externas.

As condições favoráveis permitiram, tal como em muitos outros países emergentes, um surto de consumo e investimento. As contas públicas foram beneficiadas, e a sobra orçamentária foi suficiente para financiar políticas sociais.

O período de facilidades, entretanto, já se esgota. O PIB estagnou neste segundo semestre. As contas públicas estão no vermelho. Escasseiam recursos para distribuir benesses entre aliados da presidente. Não por outra razão, o governo enfrentou em setembro os maiores protestos desde que Néstor Kirchner ascendeu ao poder em 2003.

Até as maiores centrais sindicais do país têm sido ativas nos protestos. Tradicionais apoiadores de governos de inspiração peronista, os sindicatos têm perdido terreno para outras facções, como La Cámpora, grupo de jovens líderes que inclui o filho da presidente.

Eleita em outubro passado com 54% dos votos, Cristina Kirchner é aprovada hoje por apenas 24% dos argentinos. Mesmo assim, há rumores sobre mudanças constitucionais para permitir à presidente um terceiro mandato.

Tal perspectiva parece cada vez mais improvável. A deterioração econômica levou o governo a acirrar o confronto. Ataca a imprensa, intervém em empresas e corteja a tentação de refugiar-se em algo não exatamente novo na Argentina -o controle total da Presidência pelo autoritarismo populista.

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