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Kenneth Maxwell

Portugal de novo

A paciência dos portugueses se esgotou. Grandes manifestações cercaram, nesta semana, o Parlamento, em Lisboa. Foi a primeira vez que isso aconteceu desde o auge da revolução no país, na metade dos anos 70.

As manifestações não foram tão grandes quanto as de novembro de 1975. Naquela ocasião, a Assembleia Constituinte, o premiê e o governo foram sitiados por 100 mil trabalhadores, como parte do mais sério conflito entre facções civis e militares desde a derrubada da ditadura em Portugal, em 25 de abril de 1974. A crise só foi resolvida em 25 de novembro de 1975, quando aliança entre civis e militares, liderada pelo então coronel Ramalho Eanes, derrotou forças pró-comunistas.

O tamanho das manifestações desta semana foi, porém, substancial. Elas servem de alerta claro aos políticos.

Até duas semanas atrás, os portugueses pareciam resignados aos cortes profundos de gastos impostos como parte do pacote de resgate de 78 bilhões de euros acordado com a "Troika" -União Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu. Em seguida, contudo, o governo de centro-direita do premiê Passos Coelho subestimou gravemente a reação popular, ao tentar elevar as contribuições previdenciárias dos trabalhadores e reduzir as contribuições dos empregadores. Terminou forçado a recuar.

O governo português introduziu novos cortes no funcionalismo e elevou impostos de novo, nesta semana. Os poderosos sindicatos do país planejam uma greve geral para 14 de novembro. O desemprego supera os 15%. Pequenas e médias empresas se viram forçadas a fechar. O setor de restaurantes enfrenta dificuldades devido à alta do imposto sobre as vendas. A coalizão entre o Partido Social Democrata, do premiê, e o Partido Popular, de direita, está passando por sério desgaste.

Nesta semana, o presidente eleito do México, Enrique Peña Nieto, que assume em dezembro, disse ao rei espanhol, Juan Carlos, que o México ajudaria a Espanha em seu momento de dificuldade.

Peña Nieto conduzirá o Partido Revolucionário Institucional, que governou o México de 1929 a 2000, de volta ao poder. Se o país, de fato, ajudar a Espanha, será uma interessante ironia histórica: a prata mexicana sustentou a Espanha por séculos, no período colonial.

Será que o Brasil estaria pronto a ajudar Portugal da mesma maneira? Afinal, o ouro e os diamantes brasileiros sustentaram Portugal por boa parte do século 18.

A economia brasileira atual tem riqueza suficiente; mas não prenda a respiração. A despeito do muito que se diz sobre cooperação luso-brasileira, os brasileiros não têm sido muito generosos. Ao menos no que tange à antiga metrópole.

KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de Paulo Migliacci

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