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Roberto Dias

Imagina depois da Copa

Jeonju é daqueles lugares que não soem figurar nos sonhos de férias dos brasileiros. A cidade, porém, já foi sede de Copa do Mundo, há dez anos, quando o Brasil levou o penta.

Espetada nos cafundós da Coreia do Sul, Jeonju tem um famoso bibimbap (prato com arroz e vegetais) e nenhum aeroporto comercial. Quem foi acompanhar os jogos lá precisou viajar por terra -desde Seul, são três horas de ônibus.

No quesito aeroportos, os coreanos optaram por investir em Incheon, na Grande Seul. Fazia sentido para eles. Vive ali quase metade da população do país, que queria abocanhar conexões aéreas na Ásia (Incheon ganha há sete anos seguidos o título de melhor aeroporto do mundo).

Já para os brasileiros, além da melhorar os aeroportos, o que faz sentido neste Mundial?

Bem ou mal, as metrópoles daqui passam pela maior transformação urbana conjunta já vista no país. O debate na eleição dos "prefeitos da Copa" parece, no entanto, versar sobre outro planeta.

Graças ao evento, os eleitos terão poder maior do que o normal, indica estudo divulgado no mês passado nos EUA.

Com anos de pesquisa sobre o efeito de Copas e Olimpíadas, o professor Victor Matheson, da Holy Cross, escreveu: "O melhor que pode ser dito dos megaeventos é que permitem aos governantes superar dificuldades políticas para investir em infraestrutura".

Eduardo Paes, anfitrião reeleito da final da Copa e dos Jogos no Rio, chegou a conclusão semelhante sem desgastar tanto os neurônios.

"Esse negócio de Olimpíada é sensacional, preciso usar como desculpa para tudo", disse ele ao "TV Folha". "Tem coisa que tem a ver com a Olimpíada. Tem coisa que não tem nada a ver, mas eu uso."

Usa para quê?

Paes poderia ter respondido num encontro que houve só para isso no Rio, mas não deu as caras. Como não apareceu o também reeleito Marcio Lacerda quando esse debate chegou a BH. Proposto por ONGs em 11 das 12 sedes (Brasília não tem prefeito), ele tinha o tema "Copa, Olimpíada e eleições: qual o legado social para a sua cidade?".

Não dá para esperar que a resposta venha dos pitacos da Fifa. Seu relatório técnico sobre a candidatura brasileira, em 2007, proclamava que São Paulo tem uma "extensa rede de metrô" e que nossos aeroportos podem receber a Copa "confortavelmente".

A mesma entidade agora é invocada ao arrancar dinheiro do BNDES até para aeroportos a centenas de quilômetros da Copa. Em terra de cego, a "exigência da Fifa" reina.

O bate-estacas em curso nas cidades ressoou pouco nesta eleição -em São Paulo, foi abafado pelo kit gay. Talvez sinal de fracasso coletivo em planejar metrópoles melhores para viver. Se nem na Copa conseguimos, imagine depois.

ROBERTO DIAS é editor de Novas Plataformas.

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