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Reinaldo Moraes

O assunto de hoje: razões para votar no meu candidato

Haddad e o laboratório do doutor Lula

Dr. Frankenstein Lula inventou Haddad? Sim, mas criou Dilma também, e ela tem ido bem. Já o PSDB e seu aliado pós-arenista Kassab precisam virar passado

O padre Antônio Vieira (1608-1697), gênio da oratória sacra, chamado por Fernando Pessoa de "imperador da língua portuguesa", saiu-se com esta num de seus sermões, o do Santíssimo Sacramento, de 1645: "Tempo houve em que os demônios falavam, e o mundo os ouvia; mas depois que ouviu os políticos, ainda é pior mundo".

Não é difícil encontrar quem concorde com o Vieira nesse mesmo mundo de Deus e dos demônios. Também eu tendo a fechar as narinas diante do enxofre exalado pela grande maioria dessas figurinhas carimbadas, os políticos.

Sou forçado, porém, a reconhecer que é deles que a gente depende se quiser ver os grandes antagonismos sociais, econômicos, culturais e religiosos de um país, região ou cidade acomodados numa arena política civilizada, ainda que mal e porcamente (e não a ferro, fogo e sangue nas ruas, como hoje na Síria, por exemplo).

Vai daí que fica difícil defender a opção pela neutralidade quando chega a hora da onça beber voto num país, como a nosso, que tenta a muito custo se ver como democrático.

Agora, em São Paulo, a onça está a postos, radicalmente polarizada entre dois contendores de peso.

De um lado, José Serra, o velho político do já encarquilhado PSDB. Um partido que, de tanto se aliar aos remanescentes da velha Arena, criada pelos milicos da ditadura para lamber-lhes regularmente os coturnos, já vai se encaminhando para o seu irremediável ocaso.

Espero que o atual prefeito, o Kassab, cria do ex-arenista Maluf e desmioladamente ungido por Serra, escoe rapidinho pelo mesmo ralo da história, junto com o partido oportunista que tirou da cartola, o PSD, última eflorescência da famigerada Arena, via PFL e DEM. Vita brevis, é o que eu e o padre Vieira latinoriamente lhe desejamos.

Do outro lado, temos Fernando Haddad, a mais recente criação do doctor Frankenstein da política nacional, Lula, que está ficando deveras craque nisso.

Farol supremo do ávido e inescrupuloso PT (que está ameaçando deixar o PMDB para trás neste quesito), Lula enche a pança de justificado orgulho com seu primeiro monstrengo de laboratório, a Dilma, que até agora vem dando conta do recado de manter a aura de seu criador, sem grandes vexames.

Pelo contrário, até procurou varrer alguns vexames para fora de seu governo, na modestíssima medida do possível.

Acho que o Haddad vai por aí também. Ela leva no bolso, portanto, o meu voto.

Será um prefeito razoável, tentará com sucesso mediano acomodar os apetites da máquina partidária que o controla, sofrerá com alguns escândalos protagonizados por seus aliados à direita e à esquerda, mas não há de ser nenhum Celso "Maluf" Pitta pilhado pulando o muro do tesouro municipal com os bolsos cheios de precatório sujos.

Se não inventar nenhuma excrescência tributária, como a taxa do lixo de sua colega Marta Suplicy, e tiver o bom-senso de não dar continuidade a esse escândalo que é a inspeção veicular do seu Kassab, que não poupa nem veículos recém-saídos da linha de produção, sabe-se lá com que escusos propósitos (alguns promotores até sabem e estão se movendo para denunciá-los), vai sair bem na foto.

O risco que o Haddad corre, aliás, é justamente esse: ser bem avaliado à frente da prefeitura e se ver lançado pelo PT ao governo paulista em 2014, por falta de opções, cumprindo o mesmo vergonhoso roteiro de renúncias a cargos majoritários do seu oponente Serra.

Se isso acontecer, não é nada improvável que algum demônio midiático sustentado por dízimos subtraídos ao bolso do povão se apodere da cadeira do alcaide em 2016, como ameaçou conseguir no primeiro turno desta eleição. Vade retro, digo eu, ecoando Vieira.

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