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Hélio Schwartsman

O tabu nuclear

SÃO PAULO - Um Irã atômico não está nos sonhos de nenhum pacifista, mas a experiência humana com essas armas sugere que elas, tanto por motivos racionais como emocionais, dificilmente serão usadas.
A matemática é impecável: durante a Guerra Fria, EUA e URSS atuaram sob a lógica da doutrina MAD (acrônimo inglês de "destruição mútua assegurada"), segundo a qual o uso de artefatos nucleares em larga escala levaria à aniquilação tanto da parte que lançou o ataque quanto da que a ele respondeu.
Assim, ambos os lados operavam para consolidar uma situação em que nenhum jogador teria a ganhar mudando sua estratégia unilateralmente. É o que, em teoria dos jogos, leva o nome de equilíbrio de Nash, em referência ao trabalho do matemático John Forbes Nash Jr.
Também conhecida como "equilíbrio do terror", a MAD é apontada por muitos como o fator que impediu a guerra aberta entre EUA e URSS. Há autores que vão além e afirmam que o veto ao uso de armas atômicas enraizou-se na psique humana, tornando-se um verdadeiro tabu.
Intelectuais e a população passaram a mobilizar-se contra o "holocausto nuclear". Isso levou EUA e URSS a negociarem primeiro uma moratória, depois o banimento dos testes na atmosfera e, por fim, acordos para a redução de seus arsenais.
África do Sul, Cazaquistão, Ucrânia e Belarus abriram espontaneamente mão das bombas que tinham. Países como Brasil, Alemanha e Japão desistiram de desenvolvê-las.
Mesmo a Coreia do Norte, que tem um regime mais maluco que o do Irã e contenciosos com vários vizinhos, construiu seu artefato, mas nada indica que vá utilizá-lo.
É verdade que o passado não traz garantias acerca do futuro, mas, a julgar pelo registro histórico, seria precipitado lançar-se numa guerra contra o Irã, com o objetivo de impedi-lo de desenvolver armas nucleares, como defendem Israel e alguns falcões dos EUA.

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