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Josué Gomes da Silva

Em time que está ganhando...

Volta e meia, ressurge o velho debate acerca do funcionamento do BNDES. Alguns defendem o remanejo radical dos juros que o banco cobra, tomando a Selic como parâmetro. O objetivo seria fazer com que a política monetária atuasse sobre a totalidade do crédito no país, o que permitiria alcançar a meta da inflação praticando menor taxa de juros. As mesmas teses de mudança atingem o crédito rural.
Tal polêmica atropela importantes fatores, a começar pelo fato de o BNDES ser uma instituição de inegável êxito, que teve participação destacada no financiamento de infraestrutura, indústria pesada e bens de capital, modernização do campo e exportação de manufaturados e serviços.
Mais recentemente, o banco empenha-se em outras vertentes fundamentais, como o financiamento de micro, pequenas e médias empresas, que já representam 40% de
suas operações, e apoio à inovação e à internacionalização. Sem o BNDES não teria havido o grande processo de privatizações e os investimentos do pré-sal atrasariam.
Também é importante enfatizar que o banco só financia investimento. Ademais, ele atua em segmentos nos quais há carência de fontes alternativas, sem abdicar da devida análise de crédito, o que lhe garante o título de campeão da adimplência.
Cabe ainda observar que não procede a afirmação de que é crescente o seu gigantismo. A participação do BNDES no total da oferta de crédito no Brasil tem sido uma constante ao longo dos anos, elevando-se em momentos de retração, quando exerce relevante papel anticíclico, como na recente crise de 2008/2009.
O risco de mudanças profundas nesse modelo de financiamento, no qual o banco tem expressivo papel, é o de que isso deteriore ainda mais o investimento de qualidade, como na infraestrutura e na produção, reduzindo a competitividade e aprofundando a restrição da oferta de bens e serviços. Tal quadro pode agravar a inflação, com aumento dos juros. Ou seja, o remédio prescrito teria efeito contrário, piorando a doença.
Fica evidente que a relevância do BNDES é consequência, e não causa, de nossa elevada taxa de juros, cuja longevidade tem desestimulado o crédito voluntário de longo prazo, tornando imprescindível uma agência de envergadura e excelência para suprir tal lacuna. Neste caso, cabe a velha máxima de sucesso no futebol: em time que está ganhando não se mexe.
Para remover as reais causas do juro alto, é preciso elevar os índices da poupança pública e privada, aumentar os investimentos governamentais, promover as reformas -em especial a tributária- e buscar a desindexação financeira de contratos, preços e tarifas. Portanto, mãos à obra!

JOSUÉ GOMES DA SILVA escreve aos domingos nesta coluna.

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