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Vinicius Mota

"Occupy Rocinha"

SÃO PAULO - Desde meados dos anos 2000, o Rio de Janeiro atravessa um período de reafirmação. Até então não achava saída organizada do cerco exercido pelo modo como ali se implantou o narcotráfico.
O negócio de drogas ilícitas existe em todo canto do mundo. A distribuição em grandes centros consumidores em geral se dá por redes capilarizadas, que se entranham discreta e furtivamente no cotidiano da cidade sem alterá-lo. Seu impacto, em termos de violência, é relativamente pequeno.
É claro que, para todo grande centro consumidor, corresponde uma região conturbada pela produção (pense na Colômbia ou no Afeganistão) ou pelo escoamento de maior volume (México) das drogas.
O Rio é um inusitado bolsão de consumo salpicado de núcleos atacadistas delimitados. A classe alta transferiu aos segmentos populares vizinhos -por razões históricas e geográficas instalados nos morros centrais- não só o serviço doméstico. Transferiu também o fornecimento de drogas.
O resultado dessa combinação foi uma degradação humanitária duradoura. Populações nos morros tiranizadas durante décadas por grupos de adolescentes com fuzis, largas fatias da polícia e políticos corrompidos, milícias antitráfico que oprimem, matam e achacam.
"Occupy Rocinha", para usar o mote da moda, é uma ação cujo potencial libertário não deve ser subestimado. Se for levado até o fim, o programa de retomada das favelas não dará cabo do tráfico de drogas no Rio -se o consumo continua, o tráfico continua. Tampouco liquidará a corrupção que atravessa a polícia.
Mas vai obrigar o tráfico a arranjar-se de outro modo, empurrando para longe -o Paraguai e a Bolívia, por exemplo- seus efeitos mais opressivos. E vai facultar a populações hoje submetidas à tirania dos chefetes das drogas o exercício da liberdade como a conhecemos.

vinimota@uol.com.br

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