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Antonio Gois

Os filhos da Rocinha

RIO DE JANEIRO - Ao ser preso na semana passada, Antônio Francisco Lopes, o Nem da Rocinha, telefonou para a mãe e fez um único pedido: queria que os filhos fossem para a escola normalmente.
Em se tratando do traficante mais procurado do Rio, convém ser um pouco cético. Talvez foi uma mensagem cifrada para os comparsas. Talvez uma tentativa de se mostrar mais humano para os policiais que o prenderam. Ou talvez, quem sabe, não tenha sido mesmo preocupação legítima de um pai?
Pouco importa. O fato é que os sete filhos de Nem, bem como as 17 mil crianças da Rocinha, merecem destino melhor que o do traficante.
Há oportunidades que não podem ser desperdiçadas. Uma delas surge da própria ocupação das forças de segurança do Estado, que, se bem-sucedida daqui para a frente, ajudará a comunidade a criar seus filhos numa cultura de não violência, bem diferente do que se vê em áreas sob o domínio do crime.
Outra é demográfica. O Censo do IBGE mostra que na década passada houve, pela primeira vez na história da Rocinha, queda de 6% no número de crianças de zero a quatro anos, o que facilita a tarefa do poder público de aumentar o investimento per capita na infância.
Há quatro anos, o governador Sérgio Cabral associou a fecundidade das mulheres da Rocinha a uma "fábrica de produzir marginal". E disse que o Estado não dava conta.
Quanto à primeira afirmação, sobre padrões de fecundidade africanos na Rocinha, ele estava errado.
Hoje, é justo que o governador comemore o sucesso da operação policial que ontem retomou o controle da favela. Mas ele terá que mostrar agora que o Estado é capaz, sim, de "dar conta" do desafio de oferecer políticas públicas de qualidade para os filhos da Rocinha.
Seria um belo pedido de desculpas pelas declarações do passado.

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