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Ruy Castro

A coisa agora vai

RIO DE JANEIRO - Um projeto da deputada estadual, ex-atriz e missionária Myrian Rios (PSD-RJ), intitulado "Programa de Resgate de Valores Morais, Sociais, Éticos e Espirituais", pretende salvar a sociedade -que, diz ela, "vem a ca-da dia mais se desvencilhando desses valores", e, sem eles, "perde-se o conceito do bom e do ruim, do certo e do errado".

Myrian (posso chamá-la assim, deputada?) teve essa ideia em boa hora. Eu próprio há muito já perdi o conceito do certo e do errado. E a culpa é dos filósofos, historiadores e ensaístas que passei a vida lendo. Cada um dizia uma coisa -incrível como aqueles homens não chegavam a um consenso-, daí a confusão em mentes ainda não formadas, como a minha.

Vejo agora que também contribuí para essa perda de valores, reunindo frases amorais num livro intitulado, olha só, "Mau Humor". Algumas delas: "Quando eu sou boa, sou ótima. Mas, quando sou má, sou muito melhor" (Mae West); "Resista a tudo

-menos a tentações" (Oscar Wilde); "Todo santo deveria ser considerado culpado até ser julgado inocente" (George Orwell); "O patriotismo é o último refúgio dos canalhas" (Samuel Johnson); e por aí vai.

Mas nunca é tarde para voltar ao bom caminho. Inspirado por Myrian, pretendo alterar meus satânicos hábitos de consumo artístico. Em vez de continuar assistindo a filmes de Buñuel, Fritz Lang e Bergman, prometo limitar-me à "Noviça Rebelde". Chega de reler Boccaccio, Sade e Nelson Rodrigues; a partir de agora, só "A Moreninha", do Macedo. E vou trocar meus discos de Charlie Par-ker e Frank Zappa pelos da Xuxa e do Roberto Carlos.

Nessa reforma, Myrian quer envolver famílias, escolas, jornais, TVs, ONGs, igrejas, empresas públicas e privadas (e por que não a polícia?). O projeto foi sancionado pelo governador Sérgio Cabral. A coisa agora vai.


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