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Desaceleração chinesa

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PIB do país asiático deve crescer menos nos próximos anos, e a economia brasileira precisa se modificar para enfrentar essa nova realidade

Para o Brasil, o crescimento da economia chinesa talvez pudesse ser comparado à imensa falha geológica que um dia provocará um grande terremoto na Califórnia.
Em algum momento, a China não mais crescerá 10% ao ano, nem crescerá do mesmo modo que hoje, demandando com voracidade produtos básicos brasileiros. Se o abalo for abrupto, as consequências serão tão mais graves quanto mais o Brasil demorar a despertar do torpor do sucesso recente.
Há controvérsia a respeito do risco de tombo chinês. Faz mais de uma década que há alertas sobre uma iminente crise, devida ao superinvestimento no país. Economistas mais ponderados acreditam que a partir de 2015 o ritmo do PIB ficaria em torno de 6%.
Por ora, a maioria dos analistas avalia que os chineses podem administrar uma queda do crescimento econômico para 9%, neste ano e no que vem -em 2010, a alta foi de 10,4%. Para nós, é um ótimo prognóstico.
Mas, entre outras preocupações de médio prazo, um país que é dependente da China para estabilizar suas contas externas deveria ter em mente a perspectiva de uma mudança considerável na economia chinesa dentro de cerca de cinco anos.
Ressalte-se o significado dessa dependência. Em 2002, 5% de nossas exportações eram dirigidas à China. Neste ano, mais de 18%.
As exportações para a China permitiram equilibrar o balanço geral dos negócios do país com o exterior. Tal fenômeno ajudou a tranquilizar o mercado cambial e, em certa medida, dada a consequente valorização do real, a reduzir a inflação. Proporcionou ainda ganho de renda direto para as empresas agroindustriais e de mineração, favorecidas pelo aumento do comércio e do preço de seus produtos. Também importante, ajudou a multiplicar os investimentos estrangeiros no Brasil.
Mas o padrão de crescimento chinês tende a mudar. A China será, aos poucos, um país de mais consumo, menos investimento; menos dependente do comércio externo. Enfim, um país onde manter o ritmo de 10% ao ano será cada vez mais difícil, dado o encarecimento de fatores de produção, da mão de obra em particular, o que já é notável pelo menos desde 2008.
As indústrias chinesas começam a migrar do litoral rico para o interior. Em breve, vão se instalar no Vietnã, na Índia, na Indonésia ou em Bangladesh, que não replicarão em volume, ao menos, o efeito chinês sobre a economia mundial.
Um baque chinês, mesmo que não provoque crises à moda dos anos 1980, pode nos reduzir ao padrão de crescimento medíocre da década de 1990.
O Brasil precisa voltar a diversificar sua economia, incrementar a produtividade, inovar. É um clichê dizê-lo, mas nada disso será possível sem revolução educacional e sem grande alívio tributário.

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