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Mudanças de rumo

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Com a economia em evidente desaceleração, BC afrouxa medidas para conter crédito, mas deixa dúvidas sobre ritmo da queda dos juros

O Banco Central reiterou, na semana passada, sua inclinação a revogar providências que foram tomadas a partir do final de 2010 com o objetivo de conter a expansão do crédito e do consumo.
Por um lado, o movimento evidencia as preocupações com o rápido desaquecimento da economia. Por outro, leva observadores do cenário econômico a levantar dúvidas sobre a rapidez da futura queda dos juros.
No final de agosto, o BC reduziu de modo inesperado a taxa básica, a Selic. Agora, anulou parte das normas baixadas em dezembro de 2010 com o fim de limitar o endividamento das famílias e a exposição dos bancos a riscos de inadimplência -as ditas "medidas macroprudenciais".
Deliberado ou não, o efeito das restrições adotadas no final do ano passado foi reduzir a velocidade da expansão do consumo. O volume mensal de novos empréstimos ao consumidor foi, desde então, sempre inferior ao registrado em novembro de 2010. A medida de prudência equivaleu, portanto, a uma alta na taxa básica de juros.
Em termos concretos, o BC decidiu agora permitir aos bancos que emprestem mais sem precisar elevar seu capital, desde que o prazo dos financiamentos não ultrapasse cinco anos. Foram beneficiados negócios com crédito consignado, crédito ao consumidor e financiamento de veículos.
Dada a cautela, neste momento maior, de bancos e de consumidores, menos confiantes em razão do esfriamento da economia e das más notícias do exterior, não é plausível que tal "afrouxamento" provoque uma expansão rápida do crédito. Mas, ainda assim, pode-se esperar que os empréstimos aumentem.
A dúvida que se apresenta refere-se ao próximo passo da autoridade monetária. O relaxamento do crédito por meio de medidas administrativas procura substituir cortes mais rápidos dos juros ou trata-se de medida adicional às esperadas reduções da Selic? Por ora, analistas e operadores do mercado parecem inclinados a acreditar na segunda hipótese, pois estimam que a Selic descerá dos
atuais 11,5% para 9,5% em 2012.
A desaceleração vai-se mostrando, de fato, veloz; o crescimento no terceiro trimestre deve ter sido próximo de zero, e a deterioração quase certa do cenário mundial até meados do ano que vem promete retardar ainda mais o ritmo da atividade econômica.
A despeito das incertezas sobre a velocidade nos cortes da taxa de juros, é por meio desse instrumento que se deve evitar o desaquecimento maior da economia, não por intermédio da expansão do gasto público -intenção que parece cada vez mais clara em alguns setores do governo.
Baixar juros e controlar despesas é a receita correta, que pode conciliar os objetivos de manter tanto o ritmo de crescimento como a dívida pública em nível razoável e compatível com o progresso no médio prazo.

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