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Ruy Castro

Cena carioca

RIO DE JANEIRO - Era um casamento formal, de luxo, com padrinhos de fraque cinza e calças riscadas e madrinhas de cílios postiços e pérolas autênticas, como ainda sói acontecer. Foi num recente fim de tarde, pouco antes do Carnaval, tendo como palco uma capelinha da Gávea, de tradições solenes e aristocráticas.

Sabendo que a capela não se passava por modernidades profanas, como estacionamento ou "valet parking", os convidados tinham ido de táxi. E era também de táxi que pretendiam dirigir-se ao clube na Lagoa, onde os noivos ofereceriam um jantar à luz de velas e música de piano, contrabaixo acústico e bateria à base de escovinhas.

Os mais jovens saíram à calçada para laçar os táxis -precisariam de uns 20. Era bonito ver aqueles rapazes de fraque fazendo sinal para os amarelinhos. Mas esses só passavam ocupados, fosse a caminho da Barra ou da Zona Sul. Outros convidados se espalharam pelas ruas internas da Gávea, esperando ter mais sorte. Debalde. Numa cidade onde o que não falta é táxi, não havia nenhum àquela hora.

Alguém, certamente inconsciente do que dizia, arriscou uma solução: as vans que vinham da Rocinha, rumo a Copacabana. "Vans???", coaxaram alguns. "Vans???", ecoaram outros. Mas não havia alternativa. Era parar as vans e pedir a seus motoristas que fizessem um desvio pelo Corte de Cantagalo para acessar a Lagoa -ou nunca sairiam dali.

E assim se fez. Os choferes das vans foram magníficos. Aceitaram em seus veículos, não muito limpos, aquelas senhoras emperiquitadas e seus engomados maridos e filhos, fizeram os necessários desvios e depositaram todo mundo na porta do clube. Diz-se até que os passageiros que já estavam nas vans gostaram muito de seus novos colegas de viagem, gente como eles.

O colunista, que também é gente, estará fora até o próximo dia 6.


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