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Opinião

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Carlos Heitor Cony

O ícone branco

RIO DE JANEIRO - Nos comentários sobre a renúncia de Bento 16, o ponto comum é a crise que a igreja está atravessando: perda de fiéis, escândalos sexuais e financeiros. Alguns entendidos anunciam que a igreja já era: uma instituição anacrônica, com os dias contados para sumir da história.

Quando Lutero colocou na porta da catedral de Wittenberg (1517) a bula com as teses que rompiam com Roma e davam início à Reforma, muita gente pensou o mesmo. Afinal, a Reforma foi o fim da Idade Média e o início do mundo moderno. O frade agostiniano ficou chocado: o papa vendia indulgências, vendia chapéus cardinalícios a jovens despreparados, mas nascidos em famílias da nobreza. E, sobretudo, a depravação moral vinha de longe e prometia continuar.

Alexandre 6º, um Borgia que faria o Tratado de Tordesilhas, tinha amantes e filhos, quis fazer de um deles um novo papa. Transcrevo, a seguir, trecho do alemão Burchardt, citado por Vilfredo Pareto no seu "Tratado de Sociologia Geral" (ed. Payot, Paris, 1917):

"As orgias sucediam-se nas noites do Vaticano. Cinquenta meretrizes volteavam nuas, a quatro patas, num espetáculo de sexo em grupo nos quais se acasalavam com caprinos e caninos. A mundanidade e a corrupção da corte pontifícia vinham de antecessores mais próximos a partir do século 14, que foram Sisto 5º e Inocêncio 8º. Foi pouco depois do pontificado de Júlio 2º, o grande papa da Renascença, sobrinho de Sisto 4º, que Lutero visitou Roma e decidiu romper com a igreja".

A Reforma criou um dos momentos definitivos da humanidade. A igreja de Roma foi dada como "finita", mas continuou fazendo história. O papa, como escreveu Thomas Mann, é o "ícone branco do Ocidente". Quanto à igreja, as portas do inferno ainda não prevaleceram contra ela.


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