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Fábio Seixas

O outro Ronaldinho

RIO DE JANEIRO - O aviso às Redações do Rio chega por e-mail: "A Polícia Civil apresenta, às 11h30 desta quinta-feira, na 41ª DP (Tanque), acusado de assassinar a jovem Luana, na Rocinha".

Diante de um banner com o logotipo da corporação, como aqueles de entrevistas pós-jogo de futebol, Ronaldo Patrício da Silva é alvo de flashes e cercado por microfones.

É instigado a responder por que matou a modelo Luana Rodrigues de Souza, desaparecida em maio na favela (uma amiga dela, Vanessa de Oliveira, também está sumida, mas não era modelo e foi suprimida no aviso.)

Horas depois, o rosto de Ronaldo e o banner da Polícia Civil estavam em programas de TV. Ontem, lá estava a tal foto -seu rosto contrito e o painel colorido da polícia- nos jornais mais populares do Rio.

Só há um "probleminha". Ronaldo diz ser inocente no caso. E tem uma história para contar que deveria ser, no mínimo, passível de algum crédito, objeto de mais cuidado.

Apresentou-se espontaneamente na delegacia, acompanhado por um advogado. Conta que tomou a decisão após ver sua foto num cartaz do Disque-Denúncia.

Afirma ser motoboy e ter sido confundido com um certo Ronaldinho, traficante, ex-namorado de Luana. Era essa, diga-se, a pista que a polícia vinha seguindo desde o início das investigações.

Seu azar, diz, é a conjunção de ser chamado pelo diminutivo, como milhares de seus xarás, e morar na Rocinha, como outros tantos milhares.

Pode ser apenas uma mentira bem contada, mas não houve tempo para que ela fosse verificada.

Às favas com o benefício da dúvida. O importante é convocar a imprensa logo, para mais um caso "resolvido". E não é só no Rio. Polícias do Brasil todo agem assim.

Em tempos midiáticos, o antigo aforismo ganha novo enunciado.

Expõe primeiro, pergunta depois.

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