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CLÓVIS ROSSI
O cético e o governo novo
SÃO PAULO - Ricardo Kotscho, meu amigo há mais tempo do que ambos
gostaríamos de lembrar, agora secretário de imprensa da Presidência,
conta que Luiz Inácio Lula da Silva
ficou impressionado, por anos, com o
pessimismo a respeito do Brasil que
eu teria vertido sobre ele em uma
conversa vadia durante a campanha
eleitoral de 1989.
Não me lembro da conversa nem
acho que seja pessimista. Cético, sim.
Além disso, dizem que, no Brasil, o
pessimista é na verdade um realista.
Bom, Lula, confesso que não vi razões para deixar de ser cético desde a
tal conversa de 13 anos atrás. Se me
permite os maus modos (nunca é
bom contrariar presidentes), devo
admitir que nem a sua vitória rompeu meu ceticismo.
Os problemas do Brasil tornaram-se tão imensos que me pareceu uma
temeridade você ter afirmado que
seu governo será um divisor de águas
na história da pátria.
Tomara que seja. Aliás, a única
maneira de medir o êxito do seu governo (ou o de qualquer governo) é
poder dizer, ao final do período, que
fez diferença na vida das pessoas.
Ou, ao menos, poder dizer que, de
fato, a esperança venceu o medo, tal
como vocês do PT andaram repetindo uma e outra vez depois da vitória
eleitoral. Começaram mal, aliás, porque, depois de ganhar, a maioria das
palavras e dos atos foram mais de temor do que de esperança (temor da
reação dos mercados).
A maioria dos analistas acha fantástica essa reverência aos mercados
-nova no PT. Mas o slogan "a esperança venceu o medo" referia-se ao
fato de que o eleitorado não teve medo dos agentes financeiros ao votar
-na esperança de que você cuidasse
da rua, não dos mercados.
A partir de hoje, toca a você provar
que a esperança pode de fato triunfar. Tomara que consiga.
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