São Paulo, quarta-feira, 01 de janeiro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

O cético e o governo novo

SÃO PAULO - Ricardo Kotscho, meu amigo há mais tempo do que ambos gostaríamos de lembrar, agora secretário de imprensa da Presidência, conta que Luiz Inácio Lula da Silva ficou impressionado, por anos, com o pessimismo a respeito do Brasil que eu teria vertido sobre ele em uma conversa vadia durante a campanha eleitoral de 1989.
Não me lembro da conversa nem acho que seja pessimista. Cético, sim. Além disso, dizem que, no Brasil, o pessimista é na verdade um realista.
Bom, Lula, confesso que não vi razões para deixar de ser cético desde a tal conversa de 13 anos atrás. Se me permite os maus modos (nunca é bom contrariar presidentes), devo admitir que nem a sua vitória rompeu meu ceticismo.
Os problemas do Brasil tornaram-se tão imensos que me pareceu uma temeridade você ter afirmado que seu governo será um divisor de águas na história da pátria.
Tomara que seja. Aliás, a única maneira de medir o êxito do seu governo (ou o de qualquer governo) é poder dizer, ao final do período, que fez diferença na vida das pessoas.
Ou, ao menos, poder dizer que, de fato, a esperança venceu o medo, tal como vocês do PT andaram repetindo uma e outra vez depois da vitória eleitoral. Começaram mal, aliás, porque, depois de ganhar, a maioria das palavras e dos atos foram mais de temor do que de esperança (temor da reação dos mercados).
A maioria dos analistas acha fantástica essa reverência aos mercados -nova no PT. Mas o slogan "a esperança venceu o medo" referia-se ao fato de que o eleitorado não teve medo dos agentes financeiros ao votar -na esperança de que você cuidasse da rua, não dos mercados.
A partir de hoje, toca a você provar que a esperança pode de fato triunfar. Tomara que consiga.



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