São Paulo, terça-feira, 01 de janeiro de 2008

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CARLOS HEITOR CONY

2008

RIO DE JANEIRO - Não sei se o ano que está começando será bom e próspero, como geralmente desejamos aos outros e como os outros nos desejam. Mas o calendário marca alguns eventos importantes que nos obrigarão a refletir um pouco sobre a nossa história.
Um deles é o bicentenário da chegada da corte portuguesa ao Brasil. Muito já se escreveu sobre o assunto ao longo deste ano. Não vem ao caso se devemos reabilitar a figura de d. João 6º, se é que ele precisa mesmo de reabilitação. Ao editar o álbum oficial da Rio 92, pediram-me que dedicasse um retrato àquele que considerasse o carioca mais autêntico, com as virtudes (poucas) e os defeitos (muitos) que formam a personalidade de quem nasce e vive às margens da Guanabara.
Escolhi d. João 6º, com seu chapelão de palha, na sombra e na água fresca de Santa Cruz, arredio da corte, detestando a política, mas gostando de coisas boas, não apenas de frangos assados, mas de música, das artes em geral. Saiu do Rio chorando.
Outro evento é o centenário da morte de Machado de Assis, um carioca enrustido, formal e chato nas lides oficiais, mas gozador e cético em sua obra universal.
Teremos ainda os 40 anos do AI-5, uma data macabra que teve início em 1964 e prolongou-se por mais de vinte anos. Foi o 13 de dezembro de 68 que marcou o momento de verdade do processo ditatorial que atravessamos naquela época. É preciso recordar que o movimento militar de 64 contou com o apoio majoritário e decisivo não apenas das classes dominantes, da quase totalidade da imprensa, da igreja e de grandes parcelas do povo.
Foram precisos quatro anos de violência e repressão para que todos acordássemos e, aí sim, o país ficou realmente dividido entre opressores e oprimidos.


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