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CARLOS HEITOR CONY
2008
RIO DE JANEIRO - Não sei se o
ano que está começando será bom e
próspero, como geralmente desejamos aos outros e como os outros
nos desejam. Mas o calendário marca alguns eventos importantes que
nos obrigarão a refletir um pouco
sobre a nossa história.
Um deles é o bicentenário da chegada da corte portuguesa ao Brasil.
Muito já se escreveu sobre o assunto ao longo deste ano. Não vem ao
caso se devemos reabilitar a figura
de d. João 6º, se é que ele precisa
mesmo de reabilitação. Ao editar o
álbum oficial da Rio 92, pediram-me que dedicasse um retrato àquele
que considerasse o carioca mais autêntico, com as virtudes (poucas) e
os defeitos (muitos) que formam a
personalidade de quem nasce e vive
às margens da Guanabara.
Escolhi d. João 6º, com seu chapelão de palha, na sombra e na água
fresca de Santa Cruz, arredio da
corte, detestando a política, mas
gostando de coisas boas, não apenas
de frangos assados, mas de música,
das artes em geral. Saiu do Rio chorando.
Outro evento é o centenário da
morte de Machado de Assis, um carioca enrustido, formal e chato nas
lides oficiais, mas gozador e cético
em sua obra universal.
Teremos ainda os 40 anos do AI-5, uma data macabra que teve início
em 1964 e prolongou-se por mais de
vinte anos. Foi o 13 de dezembro de
68 que marcou o momento de verdade do processo ditatorial que
atravessamos naquela época. É preciso recordar que o movimento militar de 64 contou com o apoio majoritário e decisivo não apenas das
classes dominantes, da quase totalidade da imprensa, da igreja e de
grandes parcelas do povo.
Foram precisos quatro anos de
violência e repressão para que todos acordássemos e, aí sim, o país ficou realmente dividido entre
opressores e oprimidos.
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