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Editoriais
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A fôrma e as ideias
RESTRINGE-SE quase apenas à
classe dos linguistas a expectativa pela estreia, hoje,
de mais uma reforma ortográfica
no Brasil. As mudanças por ora
são ignoradas pela maioria da
população brasileira e terão impacto reduzido no cotidiano: a
cada mil palavras utilizadas, cinco serão alteradas.
Não se veem, no momento de
sua implantação, o apreço e o zelo pelo Acordo entre as autoridades que o negociaram, aprovaram e instituíram. Nem o Congresso Nacional nem o governo
federal se prepararam para cumprir o decreto assinado em 29 de
setembro pelo presidente Lula.
Documentos oficiais deveriam
adotar a nova convenção a partir
de hoje -há um prazo de transição, até 2012, mas ele vale apenas
para a área didática (livros e concursos públicos). Num desleixo
exemplar, o governo não treinou
funcionários para a nova ortografia e não faz ideia de quando
vai implementá-la. Na Câmara e
no Senado, o assunto nem sequer foi discutido.
Pensado para unificar a linguagem escrita nos países lusófonos,
o Acordo Ortográfico produz
muito barulho por quase nada.
Seu impacto estará concentrado
na burocracia diplomática -não
será mais necessário "traduzir"
documentos para as diversas
grafias nacionais do idioma- e
no mercado editorial, que vai
movimentar-se nos próximos
anos para adaptar livros e dicionários ao novo padrão.
A ortografia que está sendo
substituída não constitui barreira para a compreensão de textos
escritos no padrão de outro país.
Dificuldades maiores são oferecidas pela construção das frases
e pelo vocabulário mobilizado
nas diversas regiões em que se
fala o idioma.
Somente a experiência da leitura sistemática e a exposição
constante a textos de tradições
nacionais, regionais e históricas
diversas podem levar à superação desses obstáculos. A nova ortografia altera algumas fôrmas
das ideias, jamais seu conteúdo.
Com ou sem reforma, milhões
de jovens brasileiros continuarão saindo da escola sem acesso a
esse universo de conhecimento.
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