São Paulo, sábado, 01 de janeiro de 2011

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Cotas diplomáticas

Sede da aristocracia. Foi com essas palavras que o presidente Lula caracterizou, em 2009, o serviço diplomático brasileiro. Em certa medida, ele tinha razão. Sabe-se de que modo as famílias de elite ocupam, com ociosidade e brilho, os postos do Itamaraty.
Historicamente, cristalizou-se ali um lugar que é tanto de excelência intelectual quanto repositório de douradas sinecuras. Desse ponto de vista, muitos podem ver com simpatia a iniciativa de reservar 10% das vagas a pessoas que se declarem "afrodescendentes" na primeira fase do concurso do Instituto Rio Branco para selecionar diplomatas.
A experiência de algumas universidades federais, aliás, demonstrou que alguns beneficiários do sistema de cotas tiveram desempenho melhor, ao longo dos anos, do que os ingressos pelo vestibular comum.
Todavia, não se pode esquecer que iniciativas dessa ordem atingem antes os sintomas do que as causas da desigualdade. O estudante branco ou mulato claro, nascido em meio pobre, continuará a ser discriminado num eventual sistema de cotas raciais.
Em síntese, despreza-se o mérito e cria-se um racismo "ao contrário". Fomenta-se um conflito indesejável num país miscigenado, em que a delimitação de fronteiras entre "raças" é no mínimo duvidosa.
Ao Brasil interessa, sobretudo, que seus representantes tenham o máximo de condições de atuar com eficiência nos foros internacionais. O método, extremamente exigente, de seleção dos quadros no Itamaraty nunca criou impedimentos a tal objetivo.
Se se trata de democratizar o acesso à instituição e de evitar que se torne uma colmeia de privilégios, cabe diminuir o número de postos decorativos -e não de aumentá-lo, como tem ocorrido, de maneira vertiginosa.
Uma visão republicana do problema não combina, em suma, com o sistema de cotas -onde a demagogia do "politicamente correto" surge mais como uma maquiagem de fim de governo do que como fator objetivo de combate à desigualdade no país.


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