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TUDO PELO DÓLAR
Reduzir a pressão sobre o
câmbio é o mais urgente desafio da política econômica. Talvez seja
também a explicação para os estudos
do governo para promover uma anistia fiscal que incentive a volta ao Brasil de recursos depositados no exterior, mesmo com origem ilegal.
Na prática, tal medida faria sentido
sobretudo para tentar resgatar dinheiro sujo. Quanto aos dólares depositados legalmente por brasileiros
no exterior, só a recuperação da confiança na moeda e no crescimento do
país poderá motivar sua repatriação.
Cálculos preliminares situam em
US$ 30 bilhões os dólares ilegais de
brasileiros depositados em paraísos
fiscais e em US$ 6 bilhões o total que
regressaria, pagando um imposto
muito baixo e eventualmente sendo
direcionado para investimentos regulados pelo governo.
Sendo dinheiro sujo, fruto da corrupção, da sonegação e do tráfico de
drogas, é praticamente impossível
obter dados confiáveis sobre os valores em circulação.
Há dois pontos de vista decisivos
no exame dessa questão. Se o foco é
na credibilidade do sistema econômico, toda anistia fiscal premia
quem deixou de cumprir a lei e portanto fragiliza o governo.
Numa visão pragmática, justificaria a anistia o esforço de trazer dólares que talvez jamais voltassem de
outra forma e, no processo, gerar
uma receita fiscal extraordinária.
Mas há uma questão maior. É quase ocioso legislar sobre um estoque
de recursos ilegais quando os fluxos
que lhe dão origem subsistem.
Talvez fosse possível reduzir o impacto moral negativo promovendo
um controle ainda mais estrito das
práticas financeiras e reprimindo
mais toda a criminalidade.
O Brasil já trilha esse caminho, mas
há pouco tempo (leis mais atentas à
lavagem de dinheiro surgiram só em
1998). Enquanto a mobilização do
Estado contra o crime financeiro é
incipiente, uma anistia pode trazer
mais problemas do que contribuir
para uma solução duradoura.
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