São Paulo, terça-feira, 01 de fevereiro de 2011

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A vez do Egito

Sucessivas revoltas árabes indicam que sublevação na Tunísia pode ter repercussão ampla; caso egípcio resume bem volatilidade da situação

O desfecho das manifestações que há uma semana inflamam o Egito é incerto, mas parece provável que a ditadura de 30 anos de Hosni Mubarak se acerca do fim.
Há menos de 20 dias, o ditador tunisiano Zine el Abidine Ben Ali fugiu para a Arábia Saudita, após 23 anos no poder. Analistas se apressaram em apontar as diferenças em relação ao Egito, com população oito vezes maior (80 milhões) e uma das forças de repressão árabe mais preparadas.
Milhares de pessoas que todos os dias ocupam a praça Tahrir ("independência"), em desafio ao toque de recolher, a exigir a queda do governo, atestam a velocidade e a intensidade da mudança.
A insatisfação com o desemprego, com a falta de liberdade e com as más condições de vida, descomprimida pela revolta recente na Tunísia, levou a população egípcia para as ruas. A taxa de pobreza absoluta no país foi de 16,7% a 19,6%, entre 2000 e 2005.
O movimento inicial, formado maciçamente por jovens e organizado em parte pelas redes sociais da internet, não tinha liderança clara. À medida que os protestos cresciam, com cobertura intensa da rede de TV Al Jazeera, outras parcelas da sociedade egípcia se uniram às manifestações.
Os sindicatos aderiram, assim como a Irmandade Muçulmana, tida como principal força de oposição. Até agora, dão sinais de que se inclinam por apoiar a alternativa Mohamed ElBaradei, diplomata e Nobel da Paz que voltou ao país após anos no exterior.
Os EUA, depois de reação inicial tímida, receosos talvez de ver eclodir uma revolução islâmica à iraniana, retiraram o apoio à autocracia. Cobram "transição" para a democracia, sem, no entanto, exigir a saída imediata do ditador.
O Egito moderno foi moldado pela revolução de 1952, que instalou a República, a qual jamais chegou a ser democrática. Desde 1954, quando o líder da revolta, Gamal Abdel Nasser, subiu ao poder, a troca de militares no comando no país só se deu pela morte. O próprio Nasser sofreu ataque cardíaco em 1970. Anwar Sadat foi assassinado por extremistas islâmicos em 1981. Mubarak assumiu.
O Egito e o mundo árabe voltam a se ver diante de uma encruzilhada. Nova e gigantesca manifestação foi marcada para hoje, assim como uma greve geral.
O Exército anunciou compreender as demandas do "honrado povo egípcio", mas a lealdade dos comandantes a Mubarak -que acolheu três generais no novo gabinete- é uma incógnita. Aliada à incerteza sobre o comportamento dos líderes muçulmanos, a situação no Egito resume bem a perplexidade com que o Ocidente assiste às inesperadas transformações.


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