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Destravando o crescimento
ROBERTO NICOLSKY
Precisamos de uma política pública focada na agregação de valor pela incorporação imediata de inovações tecnológicas incrementais
O ATUAL debate sobre a aceleração do crescimento econômico mostra que o país não suporta mais a mediocridade das taxas
de 2,5% anuais nem aceita mais desculpas e promessas. Como a população cresce 1,7%, seriam necessários
87 anos para dobrar o PIB per capita.
As conseqüências são sentidas na violência do cotidiano. Toda uma geração está sem futuro por falta de trabalho, imolada no altar da incompetência do poder público que já se arrasta
por um quarto de século.
É verdade que recentemente foram
criadas condições estruturais mais favoráveis para o crescimento, pois temos hoje inflação baixa e declinante e
crescimento das exportações. Mas,
em contraposição a esse cenário, temos uma taxa básica de juros ainda
muito alta, embora em declínio; dólar
baixo, o que torna os produtos importados mais competitivos; uma carga
fiscal elevada e crescente, que ameaça
asfixiar as empresas; e baixos investimentos públicos há muito tempo.
O PAC (Programa de Aceleração do
Crescimento) é um esforço positivo e
válido para melhorar as condições de
crescimento futuro. Mas qualquer investimento em infra-estrutura realizado agora terá um efeito muito limitado no curto prazo, pois sua maturação leva cerca de quatro anos.
O que fazer para destravar o crescimento já? Uma economia de industrialização tardia como a nossa só acelerará seu crescimento se a indústria
de transformação e os serviços qualificados crescerem acima do PIB, ou
seja, se liderarem o desenvolvimento.
Assim foi na década de 70 e, recentemente, em 2004, quando o país cresceu 4,9% puxado pela indústria, que
exibiu surpreendente índice de 8,3%.
A lógica do desenvolvimento foi a
mesma no Japão, na Coréia e em Taiwan; e é assim na China, onde a indústria siderúrgica cresce 15% anuais há
uma década, para um PIB que cresce
9% em média; ou na Índia, onde há 15
anos os serviços qualificados de tecnologia da informação crescem 35%
anuais e o PIB alcançou 9% ao ano.
O IBGE acaba de divulgar que em
2006 a indústria brasileira só cresceu
2,8%, levando o PIB a crescer apenas
medíocres 2,9%. Com o aumento das
importações, devido ao baixo valor do
dólar, estamos ameaçados até de desindustrialização em alguns setores.
Os setores industrial e de serviços
qualificados são os que podem propiciar uma resposta rápida e sustentada
de crescimento, desde que induzido
por políticas públicas focadas na agregação de valor pela incorporação imediata de inovações tecnológicas incrementais, que proporcionam pequenas melhorias competitivas. Isso pode ser conseguido sem a veleidade de
se criarem produtos radicalmente
novos, o que envolve tempo, dinheiro
e alto risco tecnológico.
Ações para agregar valor com retorno imediato requerem coragem e ousadia em termos de políticas públicas,
como no compartilhamento do risco
tecnológico entre empresa e Estado, e
os últimos governos não as têm mostrado. Isso exige uma definição de política de governo, e não de um ministério. Exige a mobilização de todos os
agentes da produção e da inovação.
Se temos recursos escassos, a saída
é otimizar os existentes, focando com
prioridade as inovações incrementais. Se temos limitações para crescer
pelo aumento da capacidade produtiva, a saída é buscar, com firmeza e
criatividade, alternativas. Nesse sentido, o foco do PAC deve ser redirecionado para a agregação de valor à produção, para elevar o PIB sem aumento da demanda de energia nem sobrecarga da estrutura logística atual.
Há recursos para dar a partida, pois
a arrecadação para os fundos setoriais
de apoio ao desenvolvimento tecnológico atinge R$ 2 bilhões por ano e há
uma reserva de contingência com
mais de R$ 5 bilhões acumulados. Por
outro lado, o BNDES não aplicou R$ 7
bilhões do seu orçamento de 2006. Só
aí temos 0,7% do PIB, índice amplamente suficiente para o choque de
inovação incremental de que a indústria de transformação e os serviços
qualificados precisam para competir.
A Índia tem tido enorme sucesso
em fazer crescer o PIB pela qualificação e valorização dos recursos humanos e estímulo à produção interna de
produtos de alto valor agregado, como software, fármacos e medicamentos. Tais produtos são massivamente
exportados, inclusive para o Brasil
-em que pesem os indicadores sociais ainda extremamente negativos
daquele país: 30% de analfabetos e
360 milhões em extrema pobreza.
Daqui a dez anos, o cenário na Índia
será outro, como já é muito diferente
hoje do de dez anos atrás. Enquanto
isso, o Brasil, sem ousadia nem coragem, permanece, há 25 anos, acomodado na mediocridade.
ROBERTO NICOLSKY, 68, professor de física da UFRJ
(Universidade Federal Rio de Janeiro), é diretor-geral da
Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (Protec).
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