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CLÓVIS ROSSI
Luiz Inácio, o jurista
SÃO PAULO - Com seu imenso saber jurídico, Luiz Inácio Lula da Silva revogou, em uma só frase, toda a
jurisprudência secularmente firmada sobre o controle dos Poderes
em uma democracia. Disse Lula:
"Seria tão bom se o Poder Judiciário metesse o nariz apenas nas
coisas dele".
Bom só se for para quem quer poderes absolutos.
A frase, de resto, contradiz recentíssima avaliação do nobre jurista a
respeito dos processo que a Igreja
Universal do Reino de Deus está
movendo contra esta Folha. O presidente disse, então, que, se a Igreja
Universal recorreu ao Poder Judiciário, ela está usando "um dos pilares da democracia para questionar o jornal". Nesse caso, então, o
Poder Judiciário pode "meter o nariz" nas "coisas dos outros"?
Agora que a oposição decide recorrer ao Poder Judiciário para
"meter o nariz" nas "coisas" do
Executivo já não é mais utilizar
"um dos pilares da democracia"?
Alguém da intimidade do presidente deveria informá-lo de duas
coisas triviais:
1 - As monarquias absolutistas
desapareceram da maior parte do
planeta já faz um tempão. Restam,
é verdade, algumas em países que
jamais alguém em seu perfeito juízo poderia dizer serem "pilares da
democracia".
2 - O tempo em que, no Brasil, o
Executivo proibia o Judiciário de
"meter o nariz" em outros assuntos
terminou em 1985, com a restauração da democracia. Não faz tanto
tempo assim para que Lula tenha
esquecido, até por ter sido vítima
pessoalmente dessa proibição. Naquela época, não achava que o Judiciário não deveria se meter em assuntos outros que não os seus.
Sempre haverá quem diga que se
trata de uma ameaça ao regular
funcionamento da democracia. Pode ser, mas acho que é apenas mais
uma mostra da espantosa incontinência verbal do presidente.
crossi@uol.com.br
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