São Paulo, sábado, 01 de abril de 2006

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

As luzes do amanhecer

Atravessamos uma fase cinzenta de nossa história. Nunca se pode perder a esperança, pois confiamos em Deus e na conversão das pessoas. Todos podem emendar a própria conduta e assumir o cumprimento de seus deveres.
No entanto há situações que precisam ser, o quanto antes, enfrentadas e superadas para o bem de nosso povo.
Percebe-se uma atmosfera pesada, resultado de vários fatores que interferem no noticiário cotidiano, causando apreensões e tristezas. Permanecem constantes os casos de agressões e violência, assaltos, rebeliões nos presídios, tiroteio nos morros, tráfico de drogas, rivalidade entre quadrilhas. O desemprego continua a martirizar parte crescente de nossa população.
Uma inflação escondida atinge alimentos, remédios, gás e, em especial, a energia elétrica. Não podemos nos habituar com o enredo de denúncias e acusações que, nos últimos meses, marcam o cenário nacional, corroendo a estima e o respeito do povo pelos membros do governo.
Diante desse e de outros fatos, temos que aprender a ver a realidade com objetividade, constatando os aspectos positivos, as conquistas democráticas, a maior participação dos cidadãos na vida política, as organizações da sociedade civil e o testemunho de dedicação ao bem comum de muitos representantes do povo. Há algumas atitudes que contribuem para superar a atmosfera pesada de nossos dias.
A primeira é uma reflexão séria sobre os valores prioritários a promover. Não é justo colocar o lucro e vantagens econômicas de grupos causadores de desigualdades sociais acima do bem-estar da população mais pobre. O sistema capitalista neoliberal precisa dar lugar a um novo modelo que vença o drama da exclusão e crie condições de justiça social e de convivência fraterna entre os cidadãos.
Precisamos incrementar as iniciativas em curso para auxiliar o povo a ter acesso ao trabalho, com cursos profissionalizantes, cooperativas, incentivo a hortas comunitárias, recuperação de estradas e outros. É certo que programas governamentais vieram facilitar a vida dos mais pobres, como é o caso do Bolsa-Família, unido ao esforço educativo. Temos que promover com urgência a abertura de novas possibilidades de emprego na cidade e ter a vontade política de acelerar as medidas de reforma agrária e de auxílio técnico à população rural.
Há decisões que, a curto prazo, são esperadas pelo povo. É o caso de rever o custo da energia elétrica domiciliar, que aumentou descontroladamente nos últimos meses, principalmente no Estado de Minas Gerais. A mesma consideração vale para o preço do botijão de gás e de remédios indispensáveis.
Mas, além das medidas voltadas para as condições de sobrevivência e bem-estar da população mais sofrida, temos o dever de restabelecer o clima de confiança nos representantes do povo. A verdade da corrupção deve ser conhecida, e os erros, corrigidos pela Justiça. Para isso é necessário que a opinião pública não condene precipitadamente pessoas sem a devida comprovação de sua responsabilidade. No entanto precisamos evitar a impressão de que todos têm o mesmo procedimento, quando há, graças a Deus, muitos que se dedicam exemplarmente à causa pública.
Todos podemos cooperar pela prece e pelo empenho pessoal para que, no horizonte cinzento, surjam, cada vez mais fortes, as luzes do amanhecer.


Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.
@ - almendescuria@yahoo.com.br


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