São Paulo, domingo, 01 de abril de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Para a frente, Brasil!

VIVA! TROCARAM de termômetro e o doente melhorou. Usando uma nova metodologia, o IBGE descobriu que, em 2006, crescemos 3,7%, e não 2,9%.
Muito bom, mas ainda continuamos a ocupar os últimos lugares na América Latina.
As boas notícias sempre vêm acompanhadas de maus presságios. Neste caso, tivemos dois. O primeiro nos conclama para uma grande dose de cautela antes de comemorar a nova descoberta.
Sim, porque nesse maior PIB teve grande peso a incorporação da Cofins nos preços dos bens e serviços e o crescimento dos gastos do governo. Melhor seria se o resultado tivesse decorrido de um aumento efetivo da produção de bens do setor privado e de um encolhimento da burocracia e das despesas públicas. Em 2006, o crescimento da indústria de transformação foi de apenas 1,6%.
O segundo nos informa que a taxa de investimentos produtivos do Brasil em 2006 (16,8%) foi bem menor do que os 20% ou 21% que se alardeava até então, que, aliás, já eram insuficientes para o tamanho e as necessidades do país.
A combinação dessas duas notícias mais preocupa do que alegra. Com investimentos reduzidos, pouco se pode esperar em termos de um crescimento sustentado e de uma grande geração de empregos para os próximos anos.
Pior. Se o consumo continuar crescendo -o que é bom- por força de injeções assistencialistas de dinheiro público no bolso dos consumidores -o que é ruim-, vamos nos defrontar com um dilema conhecido e já vivido pelo Brasil: a oferta será insuficiente para atender a demanda.
Todos sabem as conseqüências desse desequilíbrio: inflação, agiotagem, sonegação de produtos e outras práticas abomináveis, das quais, a duras penas, conseguimos nos livrar nos últimos dez anos.
Nesse caso, o Banco Central terá todos os motivos para manter os juros altos ou, quem sabe, até elevá-los, dando um sonoro adeus ao desejado crescimento.
Essa é a leitura que faço do novo termômetro. É como a criança raquítica -não havia como engordar- que, colocada em nova balança, alegra os pais por mostrar mais uns quilinhos. Porém, ao encontrar o médico, os pais ficam sabendo que a capacidade respiratória da criança está aquém de suas necessidades, o que comprometerá o seu crescimento futuro.
Seria bom se, em lugar de festejar a troca de termômetros, estivéssemos comemorando a realização efetiva (e não promessas) de investimentos produtivos. Essa noticia será bem melhor do que a revelada pelo novo termômetro.

antonio.ermirio@antonioermirio.com.br


ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos domingos nesta coluna.


Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Tempo de sangue
Próximo Texto: Frases

Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.