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MELCHIADES FILHO
A guerra de Erenice
BRASÍLIA - O pai de Erenice
Guerra foi um dos pioneiros da
construção de Brasília. No final dos
anos 50, resolveu deixar o Ceará. A
viagem durou dois meses -de caminhão, de lombo de jegue e a pé.
O pedreiro instalou a família numa tenda do Exército e arrumou
trabalho na obra do Palácio da Alvorada. O prédio foi a primeira
inauguração da nova capital. Hoje, é
a casa do presidente da República.
Décadas depois, a filha recebeu o
convite de Lula para conhecer o
edifício que o pai ajudou a erguer.
Não conteve o choro na visita.
Poucos conhecem esse e outros
episódios da vida da advogada que
hoje substitui a amiga Dilma Rousseff no Ministério da Casa Civil.
Erenice, 51, não gosta de aparecer
nem de falar de si. Fez carreira no
serviço público longe do público.
Foi só a dois ou três eventos do governo Lula. Não posou para fotos.
Não deu uma única declaração à
imprensa, nem quando a Folha noticiou seu envolvimento em escândalos do segundo mandato (dossiê
FHC e caso Lina Vieira/Receita).
Os mais próximos dizem que a
discrição não é timidez nem cálculo, mas resultado da obsessão pelo
trabalho que a nova ministra traz
de longe: aos 18 anos, quando morava na cidade-satélite do Guará,
Erenice já estava casada, era mãe,
cursava faculdade de direito, participava de ações sociais da Igreja Católica e ensaiava os primeiros passos na militância política (levava de
bicicleta os filhos às reuniões que
viriam a instalar o diretório do PT,
ao qual filiou a mãe e o marido).
Após se formar, Erenice passou
pela Eletronorte, pelo governo distrital e pelo Congresso até que encontrou Dilma. O PT estudava como tirar proveito político do apagão do governo FHC e chamou as
iniciadas em energia -uma, na área
técnica; outra, na jurídica. A parceria nasceu ali, Erenice confortada
em conhecer outra mulher obstinada pelo trabalho e avessa a lamúrias. "Quem quer faz, não manda fazer", virou o mantra das duas.
melchiades.filho@grupofolha.com.br
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