São Paulo, quinta-feira, 01 de abril de 2010

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MELCHIADES FILHO

A guerra de Erenice

BRASÍLIA - O pai de Erenice Guerra foi um dos pioneiros da construção de Brasília. No final dos anos 50, resolveu deixar o Ceará. A viagem durou dois meses -de caminhão, de lombo de jegue e a pé.
O pedreiro instalou a família numa tenda do Exército e arrumou trabalho na obra do Palácio da Alvorada. O prédio foi a primeira inauguração da nova capital. Hoje, é a casa do presidente da República.
Décadas depois, a filha recebeu o convite de Lula para conhecer o edifício que o pai ajudou a erguer. Não conteve o choro na visita.
Poucos conhecem esse e outros episódios da vida da advogada que hoje substitui a amiga Dilma Rousseff no Ministério da Casa Civil.
Erenice, 51, não gosta de aparecer nem de falar de si. Fez carreira no serviço público longe do público. Foi só a dois ou três eventos do governo Lula. Não posou para fotos. Não deu uma única declaração à imprensa, nem quando a Folha noticiou seu envolvimento em escândalos do segundo mandato (dossiê FHC e caso Lina Vieira/Receita).
Os mais próximos dizem que a discrição não é timidez nem cálculo, mas resultado da obsessão pelo trabalho que a nova ministra traz de longe: aos 18 anos, quando morava na cidade-satélite do Guará, Erenice já estava casada, era mãe, cursava faculdade de direito, participava de ações sociais da Igreja Católica e ensaiava os primeiros passos na militância política (levava de bicicleta os filhos às reuniões que viriam a instalar o diretório do PT, ao qual filiou a mãe e o marido).
Após se formar, Erenice passou pela Eletronorte, pelo governo distrital e pelo Congresso até que encontrou Dilma. O PT estudava como tirar proveito político do apagão do governo FHC e chamou as iniciadas em energia -uma, na área técnica; outra, na jurídica. A parceria nasceu ali, Erenice confortada em conhecer outra mulher obstinada pelo trabalho e avessa a lamúrias. "Quem quer faz, não manda fazer", virou o mantra das duas.

melchiades.filho@grupofolha.com.br


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