São Paulo, quarta-feira, 01 de maio de 2002

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MEDIAÇÃO DESGASTADA

O governo de Israel diz que o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat, está livre para deixar o seu quartel-general em Ramallah (Cisjordânia), onde, em janeiro, foi confinado por um cerco militar israelense. O ato, somado ao fato de que terminou a primeira fase da incursão do Exército israelense nos territórios palestinos, poderia denotar que se forma cenário favorável à retomada das negociações entre palestinos e israelenses. Infelizmente, há motivos para ceticismo a respeito dessa hipótese.
O principal deles se refere ao desgaste do poder de mediação do governo dos Estados Unidos. Depositaram-se muitas esperanças na recente viagem do secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, ao Oriente Médio. O tamanho das expectativas foi proporcional ao da decepção pelo fracasso da missão em seu objetivo primordial: o de promover um cessar-fogo imediato.
O primeiro-ministro Ariel Sharon não se intimidou com a chegada de Powell. Mesmo tendo o alto funcionário de Washington obtido de Arafat uma condenação -genérica, é verdade- da via terrorista, o Exército de Israel continuou a sufocar localidades palestinas e só se retirou uma vez considerada "cumprida" a primeira fase da operação militar. O saldo foi de centenas de palestinos mortos e milhares de feridos, sem contar os imensos prejuízos materiais.
O presidente Bush insiste para que os dois lados tracem uma agenda de negociações. No entanto vai demorar muito para que os americanos se refaçam da perda de credibilidade que sua função mediadora sofreu nas últimas semanas. A revelação de planos para uma ataque militar americano, já em 2003, com o objetivo de depor o ditador iraquiano, Saddam Hussein, é mais um complicador. É difícil harmonizar, na complexa geopolítica do Oriente Médio, uma ação para estabelecer a paz com outra para despejar bombas.


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