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MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
O new vira-lata
SÃO PAULO - É mais do que conhecida -e fartamente citada- a expressão de Nelson Rodrigues para designar a baixa auto-estima dos brasileiros: o complexo de vira-lata. Se, em
seu contexto original, o do futebol,
essa falha já foi superada, em outras
tantas áreas da atividade nacional
ela permanece viva. Na política e na
economia, o complexo de vira-lata
transmutou-se de forma curiosa.
O fato de o nacionalismo ter-se ligado no Brasil a projetos de esquerda
e de direita que entraram em crise e
se exauriram há algumas décadas,
deu lugar a uma onda antinacional
modernete, travestida de internacionalismo e ornamentada com falsificações globalizantes para disfarçar
aquilo de que, no fundo, se trata: a
abdicação de qualquer projeto nacional e a capitulação ante o desafio
de fazer do Brasil um país mais digno e decente, que tenha uma contribuição original a dar ao mundo.
A característica básica desse "new
vira-lata" é a decepção íntima, profunda, dilacerante, fundamental
com o fato de Deus tê-lo feito nascer
no Brasil. Tudo que o new vira-lata
adoraria era que seus antepassados
tivessem embarcado no Mayflower.
Pessoas acometidas por esse novo
complexo consideram, por exemplo,
um escândalo inominável alguém
tentar evitar a perda de controle da
maior mineradora do país para grupos japoneses. Por que não deixar
com o Japão? -perguntam, como se
fossem gueixas ou samurais.
O new vira-lata é, pois, o antípoda
do perfeito idiota latino-americano.
É o sujeito que entendeu o óbvio: que
aquele nacionalismo esquerdoso ou
direitoso entrou em colapso. Mas viu
nisso o sinal verde para embarcar
numa onda antinacional.
Antinacional, diga-se, no que diz
respeito ao Brasil. Pois o novo complexado tem simpatias pelo nacionalismo alheio. O new vira-lata liberal,
por exemplo, perfila-se e enche-se de
júbilo nacionalista à simples visão de
uma apple pie. Há os que se estufam
aos acordes da Marselhesa ou até
mesmo os que já admiram a China,
lembrando, obviamente, que "aquilo
é outro mundo".
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