São Paulo, sábado, 01 de maio de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

A falência dos Estados

RIO DE JANEIRO - Andei fuçando alguns estudos sobre o controle de vôo dos aviões, num cenário cada vez mais complexo, com aparelhos super-sofisticados, cuja qualidade cresce geometricamente, mas com o apoio em terra gradualmente deficitário, com equipamentos que crescem em escala aritmética.
A conclusão a que se chega é que os Estados, mesmo os mais poderosos, em breve serão impotentes para dominar o tráfego com a mesma segurança e eficiência com que a tecnologia avança. A soberania dos espaços aéreos, que cria problemas delicados sobretudo no continente europeu, não pode continuar como está, obrigando a desvios, a horários, a escalas absurdas, sem contar a pesada burocracia que envolve os planos de vôo de cada companhia, de cada rota, de cada aparelho isoladamente.
O mundo ficou um só, em muitos sentidos. Sobretudo no que diz respeito às comunicações de maneira geral, nelas incluindo a comunicação pessoal e física que nos transporta de um lugar para outro.
Cada país, invocando sua soberania, sua segurança e seus interesses militares, econômicos e históricos, estabelece normas absurdas que, umas pelas outras, prejudicam a racionabilidade e a eficiência do transporte aéreo, encarecendo-o por um lado e tornando-o vulnerável por outro. A solução, segundo depreendi, retira dos Estados mais um naco de sua independência, submetendo-os a uma rotina transnacional mais rápida, segura e barata, sobretudo no que diz respeito ao consumo de combustível, um dos itens mais estratégicos da operação em si.
E, como subproduto de tudo isso, refleti sobre a falência dos Estados em geral, e não apenas no setor do tráfego aéreo. As barreiras nacionais seriam ainda o prolongamento das muralhas medievais, cercadas por fossos?




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