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Euforia e risco
Agência global melhora nota do Brasil, o que é bom, mas persistem as distorções em juros, tributos e dívida pública
O FRENESI que tomou
conta do mercado financeiro e da retórica
governista ontem foi
desencadeado por três letras B,
seguidas de um sinal de menos.
Trata-se da nota com a qual a
agência internacional Standard
& Poor's elevou o Brasil ao chamado grau de investimento ("investment grade").
Em termos técnicos, a mudança significa que, aos olhos do escritório privado de classificação
de risco, emprestar ao Tesouro
Nacional, comprando papéis de
longo prazo emitidos em moeda
estrangeira, passou a ser opção
relativamente segura; deixou de
ser especulativa. O potencial de
impacto da alteração, no entanto, é muito mais abrangente.
Uma série de instituições multibilionárias ao redor do mundo
está proibida, por lei, de aplicar
recursos em países que não detenham grau de investimento. A
proibição inclui, por exemplo,
grandes fundos de pensão sediados nos Estados Unidos e na Europa. O Brasil, a partir de agora,
torna-se fronteira permitida para esse tipo de poupador.
No curto prazo, porém, as implicações positivas da decisão da
Standard & Poor's, que provavelmente será imitada por outras
agências globais, estarão condicionadas a dois fatores limitantes. O primeiro é a própria reputação dos principais classificadores de risco do planeta, severamente danificada pela crise das
hipotecas nos EUA. O segundo, e
mais importante, são as incertezas decorrentes dessa mesma
crise, bem como dos temores de
superaquecimento no conjunto
das economias emergentes.
A propósito, ontem o Fed cortou 0,25 ponto percentual de sua
taxa de juros de curto prazo, agora em 2% ao ano. Em comunicado ambíguo, o BC americano deu
a entender que o ritmo de redução dos juros vai diminuir, ou até
parar. Se isso significa que o risco
de recessão na maior economia
do planeta está caindo, como parece apontar o resultado do PIB
no primeiro trimestre, será boa
notícia para todos, ao menos
num primeiro momento.
Apesar de ter atingido condição macroeconômica mais sólida
-por conta de um misto de políticas corretas, que propiciaram
previsibilidade ao ambiente dos
negócios, e sorte-, o Brasil ainda
ostenta indicadores muito problemáticos. Em relação a países
em estágio parecido de desenvolvimento, tributa demais, pratica
juros elevados e gasta uma exorbitância com a dívida pública.
O "investment grade" poderá
facilitar a correção dessas distorções. Mas, sem reorientação da
política econômica -que exigiria
redução nos gastos públicos-,
há o perigo de o Brasil tornar-se
mais um exemplo de aposta furada das agências globais de risco.
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