São Paulo, sábado, 01 de maio de 2010

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A dança do PP

Pertencente à base do governo Lula, Partido Popular movimenta-se sem maiores traumas na direção de José Serra

SEM SER dos mais graciosos, um balé bastante expressivo ocupa o fundo da cena política brasileira. Enquanto as candidaturas de José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) ocupam o primeiro plano do palco, alguns partidos de função coadjuvante surgem dos bastidores, movimentam-se e voltam a se ocultar.
É a questão da Vice-Presidência e das alianças regionais o que organiza a coreografia; eis então o PP (Partido Popular) a pôr-se em busca de parceiro para o seu próximo "pas de deux".
Cogita-se do nome do presidente da agremiação, Francisco Dornelles, para ser vice na chapa do tucano José Serra.
As afinidades não são poucas entre os dois homens públicos: não apenas a visada austera com que tratam a questão das finanças públicas, mas também a circunstância de que, senador pelo Rio de Janeiro mas sobrinho de Tancredo Neves, Dornelles reinscreveria ao lado de Serra a linhagem mineira de que, na ausência do ex-governador Aécio, a postulação tucana se ressente.
Ocorre que o Partido Popular, se é o de Dornelles, é também o de Márcio Fortes, ministro das Cidades no governo Lula. É o partido de Delfim Netto, conselheiro de prestígio do Planalto nos assuntos econômicos. É o partido de Paulo Maluf, em São Paulo, deputado da base lulista no Congresso. É dilmista nas eleições baianas, serrista no Rio Grande do Sul.
É tudo, enfim -não sendo a menor de suas características o fato de emergir como substituto, numa eventual composição com o PSDB, do seu antigo aliado, o DEM, cujas perspectivas nacionais se esfarelaram com os panetones do ex-governador José Roberto Arruda.
Não há como se espantar diante de tal mobilidade, que se verifica na grande maioria dos partidos brasileiros; o PMDB que se apresta a participar da chapa de Dilma Rousseff se equivale ao PP na sua versão serrista.
A condição anfíbia do Partido Popular é expressiva, entretanto, de uma situação que vai além da clássica ausência de identidade que acomete as agremiações políticas nacionais.
O curioso, na conjuntura atual, é que se tenha na opção entre Dilma Rousseff e José Serra poucas diferenças programáticas a identificar até agora. Nesse sentido, a fisiologia partidária até que poderia receber uma escusa de tipo inédito. Não são apenas os limites entre os partidos que se diluem, mas também as próprias linhas que sempre demarcaram, na história republicana, governismo e oposição.
Registre-se que, em certas áreas da opinião pública, a divisão entre serristas e dilmistas alcança, desde já, graus elevados de estridência e passionalidade. A internet, por exemplo, conhece convicções que os próprios candidatos não julgam conveniente expressar neste estágio da campanha.
O mundo político se afasta, para o bem ou para o mal, das emoções mais vivas da plateia. É assim que, sob uma iluminação furtiva, e cenários de cartão, o PP ensaia seu balé.


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