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A dança do PP
Pertencente à base do governo Lula, Partido Popular movimenta-se sem maiores traumas na direção de José Serra
SEM SER dos mais graciosos, um balé bastante expressivo ocupa o fundo da
cena política brasileira.
Enquanto as candidaturas de José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) ocupam o primeiro plano do palco, alguns partidos de
função coadjuvante surgem dos
bastidores, movimentam-se e
voltam a se ocultar.
É a questão da Vice-Presidência e das alianças regionais o que
organiza a coreografia; eis então
o PP (Partido Popular) a pôr-se
em busca de parceiro para o seu
próximo "pas de deux".
Cogita-se do nome do presidente da agremiação, Francisco
Dornelles, para ser vice na chapa
do tucano José Serra.
As afinidades não são poucas
entre os dois homens públicos:
não apenas a visada austera com
que tratam a questão das finanças públicas, mas também a circunstância de que, senador pelo
Rio de Janeiro mas sobrinho de
Tancredo Neves, Dornelles
reinscreveria ao lado de Serra a
linhagem mineira de que, na ausência do ex-governador Aécio, a
postulação tucana se ressente.
Ocorre que o Partido Popular,
se é o de Dornelles, é também o
de Márcio Fortes, ministro das
Cidades no governo Lula. É o
partido de Delfim Netto, conselheiro de prestígio do Planalto
nos assuntos econômicos. É o
partido de Paulo Maluf, em São
Paulo, deputado da base lulista
no Congresso. É dilmista nas
eleições baianas, serrista no Rio
Grande do Sul.
É tudo, enfim -não sendo a
menor de suas características o
fato de emergir como substituto,
numa eventual composição com
o PSDB, do seu antigo aliado, o
DEM, cujas perspectivas nacionais se esfarelaram com os panetones do ex-governador José Roberto Arruda.
Não há como se espantar diante de tal mobilidade, que se verifica na grande maioria dos partidos brasileiros; o PMDB que se
apresta a participar da chapa de
Dilma Rousseff se equivale ao PP
na sua versão serrista.
A condição anfíbia do Partido
Popular é expressiva, entretanto,
de uma situação que vai além da
clássica ausência de identidade
que acomete as agremiações políticas nacionais.
O curioso, na conjuntura atual,
é que se tenha na opção entre
Dilma Rousseff e José Serra poucas diferenças programáticas a
identificar até agora. Nesse sentido, a fisiologia partidária até
que poderia receber uma escusa
de tipo inédito. Não são apenas
os limites entre os partidos que
se diluem, mas também as próprias linhas que sempre demarcaram, na história republicana,
governismo e oposição.
Registre-se que, em certas
áreas da opinião pública, a divisão entre serristas e dilmistas alcança, desde já, graus elevados
de estridência e passionalidade.
A internet, por exemplo, conhece convicções que os próprios
candidatos não julgam conveniente expressar neste estágio da
campanha.
O mundo político se afasta, para o bem ou para o mal, das emoções mais vivas da plateia. É assim que, sob uma iluminação
furtiva, e cenários de cartão, o PP
ensaia seu balé.
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