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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Mal-estar na Cultura
SÃO PAULO - Paulo Markun foi
para Portugal e perdeu o lugar. O dito popular, neste caso, descreve
com incrível fidelidade o que se
passou na sucessão da presidência
da TV Cultura em São Paulo.
Em 12 de abril, foram eleitos 8
novos conselheiros (de um total de
47) da Fundação Padre Anchieta,
que administra a emissora. Ali ficou
acertado que Markun seria reconduzido ao cargo, na eleição marcada
para 10 de maio. Ele tinha a palavra
do ex-governador José Serra, do
atual governador, Alberto Goldman, e do provável futuro, Geraldo
Alckmin. Deles, Serra era o fiador.
Markun viajou então a Portugal.
Quando voltou, no dia 20, foi convocado em caráter de urgência por
Luiz Antônio Marrey, atual chefe
da Casa Civil do governo. Ficou sabendo que João Sayad, secretário
da Cultura, queria o seu lugar.
O episódio tem todos os ingredientes de um golpe palaciano. É
esse o aspecto que primeiro salta à
vista na sucessão da nossa "TV pública e educativa". Ficou claro, mais
uma vez, que o conselho da fundação, onde há gente séria e respeitável, é um órgão decorativo. Mais do
que isso: que a TV vive refém e a reboque de conveniências políticas.
As razões da queda de Markun já
foram expostas. Havia a necessidade de acomodar Andrea Matarazzo
no governo tucano. Ele deve substituir Sayad. Que encontrou em
Goldman um aliado disposto a aplicar a rasteira em Markun. Contaram todos com a omissão de Serra.
A esse enredo se soma a insatisfação real com os resultados da emissora. O prestígio da TV Cultura já
foi maior, a programação está desgastada, os custos da operação são
altos, há pendências trabalhistas
que se arrastam há anos. Markun
não soube desatar o nó corporativo.
Sayad assumirá com o estigma do
chefe que tomou o lugar do subordinado. Não é um homem de TV.
Terá condições políticas e pessoais
para liderar uma mudança que contemple a vocação pública e a viabilidade da Cultura? Ou será um novo
personagem a encenar o próximo
ato da mesma intriga paroquial?
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