São Paulo, terça-feira, 01 de junho de 2004

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GABRIELA WOLTHERS

O custo do improviso

RIO DE JANEIRO - Não há pessoa com bom senso que acredite que apenas um governante possa resolver a violência dos centros urbanos e o caos do sistema prisional. Mas a impressão que fica no Brasil, e mais ainda no Rio, é que a situação é sempre agravada pela falta de planejamento. A história da rebelião da casa de custódia de Benfica não começou no sábado. Ele teve início em 1999.
Foi nesse ano que Anthony Garotinho assumiu o governo do Estado e começou a implementar as Delegacias Legais. Além da modernização, o ponto alto do plano era a retirada de todos os presos das carceragens destas delegacias. Era uma boa idéia, e os presos começaram, sim, a ser transferidos. Mas, como não tinham sido construídos locais novos para abrigá-los, passaram a superlotar o já superlotado sistema prisional.
Até que chegou um dia em que não cabia mais preso nenhum em lugar nenhum. Acendeu o sinal vermelho. Iniciou-se, então, a construção das casas de custódia, obviamente sem licitação, pois tratava-se de uma "emergência".
Não por acaso, os presos começaram a ser transferidos para essas prisões antes mesmo de elas estarem prontas. Em julho de 2003, por exemplo, a Folha mostrou que uma delas já era ocupada por 500 detentos, mas não havia escadas para que os guardas acessassem as guaritas.
Além dessas construções, o governo optou por transformar em prisão um prédio que até então abrigava um batalhão da Polícia Militar. Surgiu a casa de custódia de Benfica.
O local não poderia ser mais inadequado. O prédio é em parte rodeado por uma favela -o que torna a sua segurança vulnerável. Duas escolas municipais ficam tão próximas do prédio que as janelas permanecem fechadas para que os alunos consigam estudar. Como não foi projetado para ser uma prisão, suas paredes exteriores se desmancham a cada marretada dos presos rebelados. De improviso em improviso...


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