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GABRIELA WOLTHERS
O custo do improviso
RIO DE JANEIRO - Não há pessoa com bom senso que acredite que apenas um governante possa resolver a
violência dos centros urbanos e o caos
do sistema prisional. Mas a impressão que fica no Brasil, e mais ainda
no Rio, é que a situação é sempre
agravada pela falta de planejamento.
A história da rebelião da casa de custódia de Benfica não começou no sábado. Ele teve início em 1999.
Foi nesse ano que Anthony Garotinho assumiu o governo do Estado e
começou a implementar as Delegacias Legais. Além da modernização, o
ponto alto do plano era a retirada de
todos os presos das carceragens destas delegacias. Era uma boa idéia, e
os presos começaram, sim, a ser
transferidos. Mas, como não tinham
sido construídos locais novos para
abrigá-los, passaram a superlotar o
já superlotado sistema prisional.
Até que chegou um dia em que não
cabia mais preso nenhum em lugar
nenhum. Acendeu o sinal vermelho.
Iniciou-se, então, a construção das
casas de custódia, obviamente sem licitação, pois tratava-se de uma
"emergência".
Não por acaso, os presos começaram a ser transferidos para essas prisões antes mesmo de elas estarem
prontas. Em julho de 2003, por exemplo, a Folha mostrou que uma delas
já era ocupada por 500 detentos, mas
não havia escadas para que os guardas acessassem as guaritas.
Além dessas construções, o governo
optou por transformar em prisão um
prédio que até então abrigava um
batalhão da Polícia Militar. Surgiu a
casa de custódia de Benfica.
O local não poderia ser mais inadequado. O prédio é em parte rodeado
por uma favela -o que torna a sua
segurança vulnerável. Duas escolas
municipais ficam tão próximas do
prédio que as janelas permanecem
fechadas para que os alunos consigam estudar. Como não foi projetado para ser uma prisão, suas paredes
exteriores se desmancham a cada
marretada dos presos rebelados. De
improviso em improviso...
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