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FERNANDO DE BARROS E SILVA
A vida como negócio
SÃO PAULO - "Para que tanta perna, meu Deus?" -perguntaria Carlos Drummond de Andrade. Mas
não existe espaço para poesia na vida de Ana Hickmann.
"Sempre me considerei um produto. Parece cruel, mas é verdade",
diz a apresentadora, empresária,
modelo, seja o que for. "É um produto que a gente criou junto e que
administra junto: o produto Ana
Hickmann", reforça Alexandre Corrêa, o Alê, dublê de empresário e
marido, que conheceu seu "produto" quando ela tinha 15 anos.
No perfil que Mônica Bergamo
publicou anteontem na Folha, a
atuação do casal é bastante explícita e agressiva. "Se não odiar o concorrente, você é um frouxo", filosofa Alê a respeito da disputa entre a
mulher e Eliana, do SBT. "O Alê me
chama de general. Fala que sou truculenta pra caramba. E sou mesmo.
Nunca me deram a chance de errar", justifica-se a bela e a fera.
De Penélope Charmosa, ela tem
só o carro -um Mini Cooper.
Nas imagens da reportagem (veja em www.folha.com/po743577),
o olhar -severo, ameaçador- que
o segurança da modelo dirige à fotógrafa Marlene Bergamo numa
das fotos é idêntico ao que a própria
Hickmann dirige ao marido na foto
ao lado. Ele, por sua vez, faz cara de
desespero com as mãos na cabeça.
Na foto principal, ela repete a mesma expressão -tensa e alarmada.
Tudo somado, somos introduzidos a uma espécie de reality show
da vida como negócio. "A gente vai
entregar para o mercado uma Ana
Hickmann diferente, sem esses problemas", diz o marido, justificando
as sessões de fonoaudiologia.
Não há tempo a perder nem ilusões românticas em jogo. Tudo aqui
é dinheiro e aflição. A "ambição
descontrolada" do casal pela fama
é uma caricatura involuntariamente cômica da época atual.
"A Ana vai ser a Oprah Winfrey
do Brasil, loira e de olhos azuis num
país de gente parda", diz seu marido, que não é racista. Estamos num
novelão mexicano? Ou são evidências da nossa "americanalhação"?
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