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MARCOS NOBRE
Evitar a guerra
A extrema-direita de Israel
deu seu golpe. Um golpe tão
bem dado que pegou o próprio
chefe de governo no Canadá,
rumo aos EUA, onde discutiria
justamente o processo de paz
na região.
As informações sobre o ataque à flotilha que enfrentou o
bloqueio israelense a Gaza são
e serão por um bom tempo escassas e desencontradas. O
que é certo é que houve um
ataque a navios civis em águas
internacionais, o que por si só
já é de máxima gravidade. E
mostra que a extrema-direita
israelense jogou todas as
suas fichas nesse teste bélico
decisivo.
Inicia-se agora uma disputa
política cujo resultado dependerá de como se alinharão as
forças, de onde estarão aliados e inimigos, de quais serão
os fatos e versões esgrimidos
mundo afora. Será uma continuação da disputa em torno
do acordo nuclear entre Irã,
Brasil e Turquia, país agora diretamente envolvido por seu
apoio à flotilha. Só que, desta
vez, com a possibilidade de uma guerra no horizonte.
No caso do acordo nuclear,
o resultado do cabo de guerra
foi um fortalecimento do Irã,
apoiado por Rússia e China, e
um enfraquecimento dos Estados Unidos.
Acontece que os EUA eram
a "última linha de defesa"
contra a extrema-direita israelense. No equilíbrio mais que
precário do Oriente Médio, os
EUA eram o único obstáculo à
insensatez paranoica do complexo de inteligência de Israel.
Para o equilíbrio se romper,
bastava um inimigo à altura. O
fortalecimento do Irã trouxe
esse inimigo de bandeja.
Em um outro momento, é de
esperar que esse resultado leve a diplomacia brasileira a
uma autocrítica de sua atuação na região. Mas o essencial
agora é que interrompa as escaramuças com os EUA e pare
de fortalecer o governo do Irã.
Neste momento, atitudes como essas apenas dão combustível à insensatez instalada no
governo de Israel.
É fundamental evitar uma
guerra. A qualquer custo. Isso
ainda é possível, porque a sociedade israelense dispõe de
instituições democráticas que
lhe permitem se posicionar
contra a hegemonia da extrema-direita na coalizão de governo. Mas não é momento para ilusões: qualquer movimento no sentido de isolar
ainda mais Israel fortalecerá
internamente o partido da
guerra.
Um posicionamento firme,
mas sereno, sem adjetivações,
do Brasil nesse momento pode
ter um papel de enorme importância. Lula disse que só
fazia bravatas quando estava
na oposição, fora do governo.
Que ele tenha agora a sensatez
de não fazer o jogo da extrema-direita israelense.
O Brasil pediu para entrar
nesse imbróglio. Que pelo menos saiba se comportar à altura da responsabilidade.
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta coluna.
nobre.a2@uol.com.br
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