São Paulo, terça-feira, 01 de junho de 2010

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MARCOS NOBRE

Evitar a guerra

A extrema-direita de Israel deu seu golpe. Um golpe tão bem dado que pegou o próprio chefe de governo no Canadá, rumo aos EUA, onde discutiria justamente o processo de paz na região.
As informações sobre o ataque à flotilha que enfrentou o bloqueio israelense a Gaza são e serão por um bom tempo escassas e desencontradas. O que é certo é que houve um ataque a navios civis em águas internacionais, o que por si só já é de máxima gravidade. E mostra que a extrema-direita israelense jogou todas as suas fichas nesse teste bélico decisivo.
Inicia-se agora uma disputa política cujo resultado dependerá de como se alinharão as forças, de onde estarão aliados e inimigos, de quais serão os fatos e versões esgrimidos mundo afora. Será uma continuação da disputa em torno do acordo nuclear entre Irã, Brasil e Turquia, país agora diretamente envolvido por seu apoio à flotilha. Só que, desta vez, com a possibilidade de uma guerra no horizonte.
No caso do acordo nuclear, o resultado do cabo de guerra foi um fortalecimento do Irã, apoiado por Rússia e China, e um enfraquecimento dos Estados Unidos.
Acontece que os EUA eram a "última linha de defesa" contra a extrema-direita israelense. No equilíbrio mais que precário do Oriente Médio, os EUA eram o único obstáculo à insensatez paranoica do complexo de inteligência de Israel.
Para o equilíbrio se romper, bastava um inimigo à altura. O fortalecimento do Irã trouxe esse inimigo de bandeja.
Em um outro momento, é de esperar que esse resultado leve a diplomacia brasileira a uma autocrítica de sua atuação na região. Mas o essencial agora é que interrompa as escaramuças com os EUA e pare de fortalecer o governo do Irã.
Neste momento, atitudes como essas apenas dão combustível à insensatez instalada no governo de Israel.
É fundamental evitar uma guerra. A qualquer custo. Isso ainda é possível, porque a sociedade israelense dispõe de instituições democráticas que lhe permitem se posicionar contra a hegemonia da extrema-direita na coalizão de governo. Mas não é momento para ilusões: qualquer movimento no sentido de isolar ainda mais Israel fortalecerá internamente o partido da guerra.
Um posicionamento firme, mas sereno, sem adjetivações, do Brasil nesse momento pode ter um papel de enorme importância. Lula disse que só fazia bravatas quando estava na oposição, fora do governo. Que ele tenha agora a sensatez de não fazer o jogo da extrema-direita israelense. O Brasil pediu para entrar nesse imbróglio. Que pelo menos saiba se comportar à altura da responsabilidade.


MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta coluna.
nobre.a2@uol.com.br


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