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CLÓVIS ROSSI
A bomba e a modernidade
MARIENFELD - Cada vez que
abasteço o carro aqui na Alemanha,
penso baixinho: "Cadê o escravo
que vai sujar as mãos com a bomba
de combustível?" (no caso, diesel).
Não existe. É bandejão do combustível. Você vai lá, enche o tanque, entra na casinha onde está o
caixa, dá o número da bomba que
usou, paga e vai embora. Limpar vidros, olhar o óleo, calibrar pneus?
Problema seu.
Como bom pequeno-burguês, estranho o trabalho que me dão. Mas,
de repente, cai uma pergunta: na
hora em que automatizarem os
postos de combustível no Brasil, já
imaginou o aumento do desemprego decorrente da dispensa de milhares de frentistas?
Que a automação virá, parece-me
inevitável (não só nos postos). A
economia moderna faz do ser humano o elemento descartável, muito mais que as máquinas, softwares,
os pontos-de-venda etc.
A única coisa que pode retardar o
processo (ou, no limite, até inviabilizá-lo) é a confiança no outro. Aqui,
se eu quisesse sair com o carro sem
pagar a conta, sairia. Não há nenhum obstáculo físico entre a bomba e a saída. No Brasil, bom, é melhor deixar pra lá.
Na Venezuela, anos 70, quando o
primeiro choque do petróleo fazia o
país nadar em dinheiro, o governo
Carlos Andrés Pérez decretou que
teria que haver ascensorista até em
elevador automático. Nem Hugo
Chávez, tido como o protótipo do
populista radical, ousaria hoje pensar em algo semelhante.
Mesmo porque não adiantou. A
lógica econômica (e/ou a modernidade) se impõe, mais cedo que tarde, avassaladoramente.
Na Alemanha, nem chega a ser
um problemaço, dado o nível elevado de proteção social (mesmo assim, o desemprego é muito alto,
sempre nas imediações de 10% da
força de trabalho).
O Brasil agüenta modernidade?
crossi@uol.com.br
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