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CARLOS HEITOR CONY
Lembranças de 98
RIO DE JANEIRO - Sou uma espécie de sobrevivente da final Brasil
x França de 1998. Cheguei ao estádio três horas antes do jogo e recebi
um impresso da Fifa com a escalação dos times. Lá estava Edmundo
em lugar de Ronaldo. Logo depois,
chegaram Juca Kfouri e Alberto
Helena Jr. Mostrei a escalação, Juca ficou indignado e saiu da sala de
imprensa, acho que para tomar providências.
Meia hora depois, recebemos novo impresso da Fifa com a escalação
de Ronaldo. Até hoje essa mudança
não foi devidamente explicada, mas
não foi um bom sinal. Com os times
em campo, ouvimos os hinos. O do
Brasil foi rotineiro: a banda, jogadores nacionais e uma parte da torcida. Quando começou a Marselhesa,
senti um arrepio na espinha.
Desde criança ouvi o mesmo hino
como apelo à luta e à vitória. Além
do mais, o estádio inteiro cantava os
versos famosos: "Allons enfants de
la patrie...". O dia de glória tinha
chegado para eles. O estádio inteiro
parecia evocar a Resistência durante a Guerra e a libertação final. Ou a
queda da Bastilha.
Essas recordações parecem sem
importância quando se trata de um
simples jogo de futebol. Mas, logo
no início, vimos que a França estava
com a Marselhesa e a cachorra. No
final do primeiro tempo, com 2 x 0
no placar, encontrei Chico Buarque
com a cara devastada, igual à minha. Depois veio mais um gol da
equipe de Zidane. Vi de perto o presidente Chirac pulando no camarote com a bandeira francesa enrolada no corpo.
De cabeça inchada, aceitei a carona de Sérgio Dávila, pegamos um
trânsito infernal, levamos duas horas e meia para chegarmos a Montparnasse. Já era madrugada quando voltei ao hotel e comecei a preparar as malas para a volta. Estava
conformado, mas triste, triste de
não ter jeito. Perder não é nada, o
chato é não vencer.
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