São Paulo, terça-feira, 01 de julho de 2008

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CLÓVIS ROSSI

O cassino e os BCs

PARIS - Os banqueiros centrais do planeta finalmente descobriram a pólvora, embora com fenomenal atraso. O relatório anual do BIS (Bank of International Settlements, mais conhecido como o banco central dos bancos centrais) percebeu que a economia mundial está em situação "crítica". É verdade que os banqueiros dizem "talvez crítica", o que não deixa de ser um tributo que o vício da moderação excessiva presta à virtude de aceitar os fatos como são.
O BIS reconhece também que o que chama de "certas mutações financeiras" tiveram "efeitos secundários lamentáveis". Critica o surgimento de "empréstimos de qualidade cada vez mais medíocres, que depois foram vendidos a investidores crédulos".
Todo esse linguajar meio cifrado é para dizer que o cassino em que se transformou boa parte do jogo financeiro no planeta chegou ao pico com as tais hipotecas "subprime", que estão causando "as turbulências atuais nas principais praças financeiras", e que "não têm precedentes no pós-guerra" (ou seja, desde 1945).
Pergunta o BIS: "Como pôde desenvolver-se um sistema bancário paralelo tão importante sem que as autoridades expressassem claramente suas preocupações?" Como é mesmo? Os bancos centrais não são autoridades? Não cabe a eles, precisamente a eles, supervisionar os bancos? Esse pessoal ficou assistindo da arquibancada todas as apostas no cassino que agora chamam de "sistema bancário paralelo". Quando a banca quebrou ou tomou um baita prejuízo, aí as autoridades, que eram espectadoras, resolvem fazer às vezes de colunistas de jornal e criticar o que não vigiaram quando deveriam fazê-lo.
Não seria mais honesto aceitar que são também culpados e, melhor ainda, pensar em adotar regulações que pelo menos ponham alguma ordem no cassino?

crossi@uol.com.br


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