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ANTONIO DELFIM NETTO
A boa meta de 4,5%
O CONSELHO Monetário Nacional deve estabelecer a
meta de inflação anual a ser
perseguida em 2011. Curiosamente, não se vê uma palavra dos furiosos "mercadistas" para reduzi-la.
Apenas manifestações para mantê-la em 4,5%.
Esta parece uma boa solução
quando o país está emergindo de
uma crise importada e pagando um
preço maior do que seria necessário, se o Banco Central tivesse tido
um pouco mais de ousadia e maior
senso de urgência para restabelecer o crédito interbancário.
Isso nada tem a ver com a natureza da nossa política monetária:
um Banco Central com credibilidade e operacionalmente autônomo
no regime de metas inflacionárias
é, com suas virtudes e seus problemas, o "estado da arte".
Sua principal virtude deriva do
fato, empiricamente confirmado,
de que o controle da taxa de inflação depende, basicamente, da "expectativa" criada sobre ela. Uma
autoridade autônoma e crível pode
impor, pela variação do seu instrumento (taxa de juro de curto prazo), custos aos três agentes: aos trabalhadores, determinando o nível
de emprego e, no final, seu salário;
aos empresários, determinando o
custo dos empréstimos e o volume
de suas vendas e, no final, seus lucros; ao governo, aumentando o
custo de sua dívida e, logo, obrigando-o a controlar seus déficits.
A tantas virtudes correspondem,
também, muitos problemas. A política monetária tem que levar em
conta dois parâmetros platônicos:
o produto "potencial" e a taxa de
juro real de "equilíbrio". As melhores tentativas empíricas de determiná-los, simultaneamente, mostram que o primeiro é altamente
problemático, e o segundo não é
constante!
Para proteger a sua "credibilidade", a melhor estratégia do Banco
Central será, portanto, escolher o
menor produto potencial e a maior
taxa de juro real de equilíbrio. É
disso que decorre o seu conservadorismo institucional, provavelmente um dos fatores de redução
permanente da taxa de crescimento econômico. O resultado dramático desse comportamento é
que ele constrói uma história que
depois parece confirmar as suas
estimativas...
Há outros problemas graves.
Ainda não sabemos, por exemplo,
como introduzir na política monetária as variações dos preços dos
ativos (Bolsa e taxa de câmbio). A
razão fundamental para manter a
meta de inflação em 4,5% é que ela
parece suficiente para dissipar o
calor provocado pelas ineficiências
do sistema econômico nacional
com um crescimento de até 5% ou
6% ao ano.
Antes de reduzi-la, portanto, seria melhor enfrentar as reformas
necessárias para corrigir aquelas
ineficiências.
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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