São Paulo, domingo, 01 de agosto de 2004

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Educação: prioridade nš 1 da nação

A publicidade feita pela ONU do Relatório do Desenvolvimento Humano 2004 gerou muita polêmica no Brasil, em especial no que tange à situação da educação. Muitos argumentaram que a utilização dos dados do Censo de 2000 pioraram o quadro educacional do Brasil, que poderia ser melhor espelhado por estatísticas mais recentes.
Deixando de lado a controvérsia metodológica, ninguém pode ficar satisfeito com a educação da nossa população. É verdade que tivemos avanços significativos nos últimos dez anos: caiu a taxa de analfabetismo e subiu o número de crianças matriculadas nas escolas. Mas isso está longe das nossas necessidades quando se considera a trajetória da economia globalizada na nova sociedade de conhecimento.
Hoje em dia, um brasileiro jovem entra no mercado de trabalho com seis anos de escola, sendo que a média da força de trabalho, considerando-se todas as idades, é de apenas 4,5 anos de escola. Isso é muito pouco quando se considera a média de 11 anos que prevalece nas nações mais ricas e de oito anos que caracteriza os países de desenvolvimento médio.
Para competir em pé de igualdade, o Brasil precisaria estar formando todos os jovens no ensino médio. Essa é a conclusão de um recente estudo comparativo ("Brasil Justo, Competitivo e Sustentável", Banco Mundial, 2002). O trabalho revela que o aprendizado das crianças brasileiras está aquém do esperado e do necessário em uma economia crescentemente competitiva.
O maior desafio do Brasil continua sendo a melhoria do ensino na sala de aula. Nesse campo, os pesquisadores do Banco Mundial citam experiências bem-sucedidas realizadas, por exemplo, na Índia, na China e no Chile. Tais países colocaram força total na melhoria dos professores e das escolas ao longo de dez anos, o que produziu uma mudança expressiva na qualidade do ensino e na aprendizagem das crianças.
Já passamos da época de aplaudir a matrícula das crianças nas escolas. Isso é necessário, sem dúvida, mas está longe de ser suficiente. O Brasil está muito atrasado nesse campo. Os cursos para a formação de professores estão vazios. Faltam 250 mil mestres para o ensino médio. As condições das escolas e das bibliotecas continuam precárias.
Nem sempre é a escassez de recursos que responde por tais deficiências. Há poucas semanas, a imprensa divulgou que o Ministério da Educação tinha cerca de 11 milhões de livros estocados em armazéns precários, quando esses livros deveriam estar nas mãos dos alunos. Isso é um escândalo!
Igual gravidade tem a burocracia excessiva, que continua consumindo mais de 50% das verbas públicas para a educação. A diferença de recursos que saem de Brasília e chegam às salas de aula é monumental e inaceitável.
O mais fundamental, portanto, é a melhoria substancial da qualidade dos professores e das condições em que trabalham. Isso exige um esforço de mobilização nacional, com muita deliberação e sem interrupções. É a cruzada que está faltando para o Brasil dar o salto que precisa em matéria de educação. Só educando venceremos.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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