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CLÓVIS ROSSI
Elite x elite
SÃO PAULO - Nada contra espinafrar as elites. Já até cansei de fazê-lo. É difícil encontrar em outro país,
fora da América Latina, elites tão
pequenas e tão predadoras como a
brasileira.
Mas é desonesto tentar caracterizar o atual confronto oposição/governo como uma contenda da elite
contra o povão. Nada mais é que elite x elite.
É desonesto, por exemplo, apresentar Luiz Inácio Lula da Silva como líder metalúrgico. Faz um quarto de século que Lula deixou de sê-lo (mais, na verdade, porque, como
presidente de sindicato, já não pegava no torno).
Entrou para a elite. Ou alguém aí
conhece outro ex-metalúrgico que
tenha renda para comprar um apartamento parecido com o de Lula e,
de quebra, ter sobra de dinheiro para investimentos financeiros como
os declarados pelo presidente?
Não, não é crítica a Lula. É elogio.
É bacana ver alguém ascender na
vida por seus meios e sua luta. Mas
usemos os rótulos adequados, não
uma falsificação.
Marta Suplicy, por acaso, é operária? Aloizio Mercadante é camponês? Ricardo Berzoni é sem-teto?
Essa gente toda faz -sempre fez-
parte da elite. Nos governos anteriores, era a contra-elite, assim como a oposição atual é a contra-elite
do momento.
Um governo em que as principais
políticas econômicas são determinadas por um banqueiro como
Henrique Meirelles é contra a elite?
Francamente ridículo.
A demonstração acabada de que é
uma briguinha de elite contra elite
está dada pelo fato de que a política
econômica da elite ora no poder é
muito semelhante à da elite antes
no poder, hoje na oposição.
Nada também contra quem toma
partido a favor de uma elite ou da
outra. Desde que não minta: não se
trata de uma batalha de idéias e de
projetos para o país mas de um confronto pelo poder. Ponto.
crossi@uol.com.br
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