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ANTONIO DELFIM NETTO
Conseqüências
UM DOS EXEMPLOS mais flagrantes das conseqüências
não-intencionais de ações
bem intencionadas é a luta ingente
de alguns ambientalistas contra
projetos hidroelétricos, por uma
simples e boa razão. O crescimento
(e muito mais, toda forma de desenvolvimento, que é o crescimento com a cara humana) é, apenas, o
codinome do aumento da produtividade do trabalho que resulta da
energia externa utilizada no trabalho dos equipamentos que a ajudam na produção. Há uma relação
muito estreita entre o crescimento
do PIB e o consumo de energia. Tudo é energia. A própria "força de
trabalho" é a conversão da energia
dos alimentos que o cidadão consome (que é, por sua vez, produto da
energia para produzi-los). A quantidade de energia de que dispomos
na natureza é constante: não pode
nem ser criada nem destruída. Os
homens apenas aprenderam a controlá-la em benefício do aumento
da sua produtividade.
Trata-se de uma fatalidade termodinâmica que não pode ser alterada por nenhuma pajelança, por
mais politicamente correta que seja. Energia e desenvolvimento são
os dois lados indispensáveis, umbilicalmente ligados, de uma mesma
possibilidade: melhorar o bem-estar da sociedade. O que depende de
nossa decisão é escolher a melhor
forma de organizar a energia dispersa na natureza para pô-la à nossa disposição. E é mais do que evidente que a energia hidroelétrica
-quando pode ser obtida- é a
mais conveniente: é renovável, é
limpa e consome muito pouco do
que em breve será uma das commodities mais raras do mundo,
porque seu consumo cresce exponencialmente e sua oferta é fixa: a
própria água.
O bárbaro "apagão de 2001", a
maior demonstração de incompetência de qualquer governo brasileiro -desde a expulsão de José
Bonifácio em 1823- destruiu a
grande vantagem comparativa que
o Brasil tinha na sua matriz energética. Em desespero e sem alternativa, começamos a superenfatizar as termoelétricas (necessárias
numa matriz harmoniosa) e vamos
terminar nas átomoelétricas, com
custos marginais crescentes e prejuízos maiores para o ambiente.
Quando se atrasa as hidroelétricas, deixamos de produzir a energia limpa e renovável que reduziria
a poluição das habitações pobres
que utilizam a madeira, o querosene e às vezes o estrume para produzir a energia de que necessitam para a sua sobrevivência. Quando essa energia é produzida pelas termoelétricas, tal redução é anulada
pela sua própria poluição ambiental. É um bom exemplo das conseqüências não-intencionais de
ações bem-intencionadas, mas
mal-informadas.
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.
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