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ELIANE CANTANHÊDE
Martírio
BRASÍLIA - Nem o diretor-executivo do Procon-SP, Roberto Pfeiffer, nem a Folha exageraram ao
classificar de "martírio" o sofrimento dos comuns mortais para
cancelar serviços no Brasil.
É de chorar, literalmente, cancelar uma conta de celular, pedir informações em bancos (mesmo no
Banco do Brasil), reclamar de serviços de TV a cabo. Na hora de nos
venderem, são ótimos; na de cumprirem seus deveres e corrigirem
seus erros, viram carrascos. Como
apólices de seguro.
Levei meses para cancelar um celular, com gritarias, choros, batendo telefones. Você liga uma, três,
dez vezes, e eles vêm com o velho
truque do "disque 1 para...." Na etapa que você quer, muitas opções
depois, cai a ligação. Mesmo quando consegue concluir o processo,
nada acontece. "Corrigi" o endereço e cancelei a assinatura incontáveis vezes. Nada. Quando ia ver, tinha lá uma conta. Depois, a conta mais a multa! Meses de martírio.
O decreto endurecendo com o
SAC (atendimento ao consumidor),
portanto, é bem-vindo e cheio de
boas intenções. Atendimento 24
horas para serviços ininterruptos,
como cartão de crédito e telefonia.
Um único telefone, gratuito, para
informações e reclamações. Opções
de contato com atendente e de cancelamento obrigatórias já no menu
inicial (se os atendentes souberem
o que estão fazendo, facilita muito).
Resposta à reclamação em cinco
dias úteis e... cancelamento imediato. Tudo elementar.
Agora, que os órgãos fiscalizadores se tornem aptos a intervir e exigir o cumprimento de regras. No
meu caso, a Anatel foi apenas mais
um motivo para choros e ranger de
dentes, e as horas que passei no
Procon-DF não serviram para nada. O rapaz comentou: "Todo mundo reclama da Vivo e da Tim". E
daí? "Elas são muito poderosas."
É ótimo ter regras para os serviços privados. Melhor ainda se os
serviços públicos forem capazes de
garantir o seu cumprimento.
elianec@uol.com.br
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