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CESAR MAIA
Ruptura e desastre
DOIS CONCEITOS deveriam
ser caros aos políticos. Um
de Gladwell -"Tipping
Point"- e outro tendo como referência a Teoria da Catástrofe de
René Thom. O primeiro é quando
um evento de pequena escala produz um ponto de ruptura ou inicia
esse processo. O segundo estuda as
causas de eventos naturais em ruptura quando tudo parecia normal.
As equações de previsão são de
alta complexidade. No final de um
pequeno livro, Woodcock e Davis a
adaptam para a política. Exemplificam com a militarização do Império Romano, transformando as relações de produção no campo pelo
uso de escravos, formando um
exército de cidadãos. O sistema foi
ruindo silenciosamente. É como
um processo político onde os elementos de ruptura são correntes
submersas. Quando afloram, sugerem imprevisibilidade.
Na Primeira Guerra Mundial,
quando a Alemanha mudava o
quadro a seu favor, decidiu por
um bloqueio naval, pela dificuldade em ocupar a ilha. O que não previa é que estava mexendo com os
exportadores dos EUA. A pressão
empresarial para entrar na guerra
foi irresistível.
A combinação desses dois conceitos é básica na política, pela diversidade e velocidade dos fatos, e
com isso a possibilidade de pequenos impactos, invisíveis, se tornarem viróticos (das fitas cassete de
Khomeini ao blog que expôs o caso
Monica Lewinsky).
As análises em política têm que
ser feitas num diagrama de alternativas. Vamos escolher dois fatos
e apostar que podem ser "Tipping
Points" e estarem dentro da adaptação política feita por Woodcock e
Davis. Um é o caso Honduras, um
pequeno país pobre. O kit chavista,
usando a formalidade constitucional, deu certo na Venezuela e foi levado à Bolívia e ao Equador. Cooptou o presidente Zelaya que ao arrepio da lei quis aplicar o kit-Chávez na marra. Chávez colocou as
garras de fora e expôs sua impaciência golpista. E, então, foi aplicada a bushiana prevenção estratégica. Novos terceiros mandatos
ruirão daqui para a frente, marcados pelo kit fraude-constitucional.
Seu fim expansionista cessou.
Outro fato é a linguagem desabrida de Lula. Sua popularidade
permite tudo. Mas vão sendo acumulados na memória popular e o
levaram a um ponto onde sua sobrevivência passou a depender
desta enorme popularidade. Quando esta se acomodar, a corrente da
memória das declarações extemporâneas poderá produzir o jato de
um gêiser, como o segundo tempo
do Plano Cruzado.
São exercícios que podem estimular cada um a fazer os seus, com
base nestes conceitos, e projetar
cenários.
cesar.maia@uol.com.br
CESAR MAIA escreve aos sábados nesta coluna.
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