São Paulo, segunda-feira, 01 de agosto de 2011

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Preocupações internacionais com o Brasil

ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA


É ilusório imaginar que não temos nada a ver com a crise mundial: nosso crescimento econômico será afetado e terá reflexo no fluxo de capitais

No primeiro semestre deste ano, participei de cinco eventos internacionais, nos quais percebi como o país é avaliado pelos estrangeiros.
Na situação interna, continuamos sendo vistos positivamente, mas sem o mesmo entusiasmo de 2010. Não somente na área política, com a mudança no governo, como também em alterações conjunturais motivadas pelo quadro externo e, principalmente, por certa insegurança quanto ao direcionamento da política econômica, notadamente a questão inflacionária.
Mais recentemente, as questões do superaquecimento da economia, da expansão do crédito e da valorização do real estão na pauta.
No entanto, o tema mais discutido refere-se ao melancólico cenário internacional e suas implicações.
O efeito China na América Latina, particularmente na América do Sul, do ponto de vista dos investimentos ou comercial, está sempre presente. Aumenta a grande dependência da região a respeito das compras chinesas de commodities minerais e agrícolas e investimentos relevantes em infraestrutura.
Discute-se seu impacto e como administrar essa presença sem provocar desequilíbrios locais ou regionais. E se a China desacelerar?
Quais os possíveis desdobramentos? Recentemente, o quadro externo mostra-se ainda mais complexo.
Não se trata exclusivamente da crise grega, que está se alastrando por outros países de primeira linha da Europa, como a Espanha e a Itália.
É difícil imaginar soluções consensuais diante de um quadro de tantas incógnitas. Quando a desconfiança passa a ser fator preponderante no cenário mundial, é difícil imaginar qual a melhor saída.
Esse quadro é bem distinto daquele da crise dos mercados financeiros que se iniciou nos Estados Unidos em 2008. Naquele momento, instituições públicas e mesmo privadas vieram em socorro dos bancos e mercados.
O que vemos hoje é uma incerteza global, inclusive se alastrando para os Estados Unidos, com a ameaça de um inadmissível calote de sua dívida. Por lá, não só a recuperação não se consolida como também disputas políticas põem em risco a capacidade de endividamento do país. Continuo acreditando que algum acordo sairá; porém, saindo ou não, o saldo é negativo. A confiança foi abalada.
De qualquer forma, as soluções das crises de alguns países europeus passam necessariamente pelo alongamento dos prazos de suas dívidas. Nessa negociação, algumas perdas terão que ser contabilizadas. Um novo Plano Marshall para os países superendividados faria sentido? Qual o papel do setor privado? Será solidário?
O que parece não atender às necessidades é somente recomendar mais austeridade. Cortes desproporcionais irão gerar mais desemprego e perda de receitas. Protestos continuarão! Não existem soluções boas a curto prazo.
É também ilusório imaginar que não temos nada com isso. Nosso crescimento econômico será afetado e terá reflexo no fluxo de capitais. O índice da Bovespa, que caiu mais de 15% em 2011, nos indica que não há visão positiva à frente.

ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA, economista, é sócio-fundador da Prospectiva - Consultoria Brasileira de Assuntos Internacionais. Foi o primeiro presidente da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), um dos fundadores do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais) e presidiu o Conselho de Empresários da América Latina.

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